terça-feira, 5 de maio de 2015

De Papear

Tem coisa que não se explica, só acontece. Anormal, atípico, incomum, nada disso sinaliza bem o que tá sendo tudo isso. Uma foto diferente, tantas fotos especiais, algumas palavras trocadas, o riso dela já lhe chamava atenção, mesmo antes de trocarmos maiores informações. As mandalas do sistema solar lhe despertaram um interesse tão grande, que ele decidiu pelo ousar e, quem diria, foram algumas palavras perdidas, soltas e publicadas, que despertaram um interesse curioso nela.

Ele tratou de explicar tudo logo de inicio: não a conhecia, mas queria, ainda não, mas por que não? Pensava na vida como algo valioso demais pra perder tempo tentando entender as formas como alguns acontecimentos procedem e ela pareceu gostar da explicação, tanto que não levantou mais nenhum interrogação, apenas risadas, o que o deixou de alma lavada.

A conversa fluiu bem, foi além: do que se vê, do que se imagina, do que a razão diz pra ser e foi.

Duas noites de quase encontro, que terminando em desencontros, se tornaram mais palavras trocadas, mais simetria assentada, mais risadas exacerbadas.

Aí, de súbito, como tudo que os envolvia, surgiu um encontro. Nervosismo, mãos suando, amnésia geográfica, um riso meio louco na cara. Ele se perdeu em ruas que reconhecia nas palmas suas, e foi ela quem o achou, com um aceno breve e um sorriso encantador. Ele riu, encostou a bicicleta e sentou ao lado dela, se sentindo meio abobalhado, um bastante felizardo, e, pela primeira vez em muito tempo, não sabia bem o que falar, mas não fazia mal, ela já estava preparada. Mesmo toda corada, com alegria bordada, começou o dialogar e o alivio se fez nele. Os dois pareciam compartilhar uma natureza peculiar, a de papear.

Engraçado como ela superou em muito a encomenda, era muito mais que cativante, como ele havia anteriormente dito, ele emanava algo tão bonito, toda feita pruma poesia, uma prosa, tão boa de descrever, que já contagiava, mesmo com tão pouco tempo de chegada.
Ele a enumerou assim: um riso tão grande, constante, daqueles que esbanja, que rouba a atenção, e que se não for avisado de antemão, pode roubar até coração. Maçãs tão felizes nas bochechas, de uma fofura invejável, de um atrair quase irresponsável; um olhar muito vivo, atento, esperto demais, e que, sem especial motivo, lhe faz querer roubar o foco; as madeixas bem elaboradas entre dourado, mogno, castanho e flor de liz, que sinalizam um tom tão feliz, uma aura solar, quase como se fosse o que seu nome quisesse significar.

E o tempo correu, eles falaram, riram, se envergonharam e coraram. Alguns olhares, alguns toques, sorrisos de retoque e o tempo correu tanto que voou. Ela tinha de ir e ele também, mas não antes de ele lhe acrescentar sobre três dos seus muitos sorrisos, que sem aviso, ele passou a contar. Ela toda corada, lhe deu uma risada ousada, como quem espera pela próxima parte. Ele partiu, com a lua de companhia e o aroma do rio, relaxado, nem parecia uma segunda-feira qualquer, que maravilha de mulher.

Até agora foi assim e eles se mantém, nessas conversas tão além, entre palavras, de papear, porque o que já estava sendo, era o que será.

Um comentário:

  1. Que coisa mais linda de ler! Que delicadeza nas palavras. Que descrição mais linda e poética.

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