segunda-feira, 30 de maio de 2016

Projeção

A verdade, para mim, é uma variável tão livre quanto o vento, e embora eu tenha esse dom de falar como se soubesse de tudo, devo confessar que sei tanto da vida e dos amores quanto todos os outros: uma projeção do nada.

Nadando à deriva em relações tempestuosas, mantenho a calma, por saber que independente do quão ruim o momento esteja, há de ter um barco por aí, que há de me levar ao cais em segurança.

Assegurei de fazer do amor o melhor porto para repousar. Sei que já tivemos nossa chance de dar certo e que, hoje, apesar de não lhe ter mais por perto, ainda existe essa velha voz na minha cabeça que está me impedindo de jogar fora a possibilidade de nos reencontrarmos. É que sinto tanta falta das nossas conversas, só que, quanto mais o tempo passa, mais a nossa possibilidade tende a ser algo acabado e enterrado, um sonho absurdo.
Abismado fiquei, quando você se aproximou para conversar comigo.

-Alguns dias eu não sei se estou certa ou errada, não sei o que minha mente quer dizer.
-Sua mente está pregando peças em você, minha querida.
-Provavelmente, então não ouça uma palavra do que eu digo, não enquanto não estiver sóbria.

Você foi embora, porque era o racional a se fazer. Percebo agora, que o resta em mim é um fantasma de você. Uma projeção que criei sobre quem você era e não mais é, independente do que eu quiser. Agora estamos despedaçados, mudados e reciclados e não há nada o que possamos fazer. Foi tão complicado perceber, mas se eu não nos deixasse ir, nunca poderemos nos reencontrar; é que projeção nos faz viver no passado e reencontros são presentes que hão de surgir no futuro.

domingo, 29 de maio de 2016

Profusão (Scorpio)

Com certezas cinéticas, uma sensualidade eclética, ela não vai ser dominada. Uma profusão de vontades e possibilidades, com esperança de torná-las todas realidade, pois se não acontecer, vai até o fim para recuperar o que lhe fizeram perder.

-Você tem fogo? - foram as primeiras palavras que optei por lhe falar.
-Tenho - ela me entregou o isqueiro prontamente.
-Obrigado, mas eu não fumo - ri divertido da dúvida que surgiu em seu rosto - era só uma desculpa pra quebrar o gelo... Fogo... Sacou?
-Bem pensado - ela até esbanjou um sorriso, provavelmente por educação, guardando em seu olhar, o ar de diversão - mas se queria falar comigo, era só ter falado.
-Iria dizer o quê? Indagar se você estava tão perdida aqui quanto eu?
-Você está muito mais - e aí veio uma risada sincera.
-É a bermuda xadrez ou a barba por fazer?
-O fato de você nem sequer tentar se remexer ou cantarolar essa música de ensurdecer.
Ela estava certa, éramos dois estranhos naquela festa que não nos acolhia. Ainda bem, porque achá-la assim foi uma grande alegria. Numa conversa aleatória, ela comprou minha história, não por se deixar cair na minha lábia, mas, provavelmente, por gostar do meu tom desafiante e do meu convite, que subitamente, nos levou pruma noite a sós, sem precedentes.

Não precisei falar muito pra fazê-la topar, seu ar era de vontade; de quem vivia com a missão de encher o mundo de insanidade. E como foi louco. A partir dali, eu não mais controlava nada, era coadjuvante dos desejos e planos que ela me incluiu por saber que aventura nenhuma eu negaria.

Seu riso tem tantos significados, mais que todos os outros que eu já tentara classificar. Ela é mais que o óbvio, é utópica, decidida a viver apenas com um preocupar: crê no quanto pode adivinhar. Sua aura de ter como signo Escorpião lhe faz assim: cheia de vontade de quebrar o sistema, como se intensidade fosse a solução de qualquer problema. Então seria covardia minha, não tentar fazer parte dessa profusão de alegria que é fazê-la parte da nossa vida.

domingo, 22 de maio de 2016

Combustão (Sagitarius)

Vou acabar em cinzas, se continuar a me deixar incendiar pela combustão que ela parece gostar de me causar. Se pudesse, gostaria que ela fosse apenas fogo, pra me queimar sem piedade, pra não me fazer parte do seu jogo.

A melhor jogadora, não por inteligência, não por beleza, não por astúcia, apenas pela sua indomável natureza.

Naturalmente ela conquista com um erguer de sobrancelhas. Pequena, agraciada pelo sol, indolente às rogas que arruinaram impérios de certezas que encontrei antes dela. É claro que havia hesitação naquele portar, todavia, o discurso dela sai sem nenhum pestanejar, como se na trajetória entre o pensamento e o falar, houvesse um pedágio de auto-afirmação. Ela tem a habilidade de tornar as dúvidas que eu regougo ao vento, certezas sem arrependimento.
Certa é ela. Sem medo de tentar sozinha, sem se importar com o fim da jornada, aproveitando o presente momento, com cada loucura, cada intensidade, cada sentimento.

-Eu começo de novo, volto ao início. Faço as coisas funcionarem à minha maneira, porque a única doutrina que me rege é que não devo parar - ela me retrucou quando eu indaguei sobre as possibilidades perdidas por ela não se deixar ser roubada.
-Essa é a melhor resposta que você poderia me dar.

Aceitei o desafio com um sorriso divertido estampado no rosto. É loucura admitir que mergulho num incêndio com gosto? Não quando as chamas que me colocam em combustão, nada mais são, que causadas pelos semblantes de uma sagitariana.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Insanidade

Me lembro quando,
Perdi a saudade,
Sim havia vontade,
Mas tinha de seguir,
Precisava me redimir.

Você estava lá fora,
Longe do meu alcance,
Já tinha passado a hora,
De esquecer nosso romance.

Os heróis que venerava,
Seguiram o coração,
E perderam sua alma.

Os vilões que amava,
Tiveram uma melhor opção,
Hoje prosperam com calma.

Me lembro quando,
Perdi a sanidade,
Não havia felicidade,
Mas tinha de sorrir,
Precisava me redefinir.

Vê como é engraçado,
Agora devidamente libertado,
Não há medo iminente,
Sigo em frente,
A insanidade é um presente.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Clauso

A gente apaga o passado como se fossem arquivos a ser deletados. Raramente se lembra do que ficou pra trás, porém, tem momentos que as lembranças tomam a mente e quando a gente vê, já se sente doente. Eu não me sinto mal, não mesmo. Desejo a ele toda felicidade do mundo, porque se não o fizesse, iria dar voz uma parte de mim que deve se manter enclausurada.
Mesmo em clauso, essa parte ainda parece ter poder sobre o todo, já que estremeço quando me falam que você perguntou por mim, porque, apesar de não admitir, sei que menti quando lhe disse que tinha acabado, sim, eu deveria ter lhe beijado, mas não o fiz e o momento passou.

Somos passado, não tenho dúvidas sobre isso, mas o que eu sou pra você? Um sussurro no ouvido? Uma promessa que não pôde ser comprida? Uma memória que não deve ser proferida? Ou seu maior erro?

Felicidade, querido. Pra você, seus novos sonhos, pra quem você ofertar amor; pro seu futuro, ao seu dispor. Felicidade, por favor, pra você não olhar pra trás e não me tentar ainda mais.

domingo, 15 de maio de 2016

Essência (Capricorn)

Ela não vai mudar não, vai manter sua essência sim, mesmo se for só, não tem pra quê ceder. Deus há de dar aval sim, por que no final, talvez calada afim, ela sabe que vai ser considerada a certa, enfim. É que ela sabe o que quer, até quando não sabe quem é; mesmo que não tenha plano algum, ainda assim sabe pra onde segue.

Seguindo sua constelação, vive pisando cada passo com cuidado, para não machucar ninguém. É que ela faz de um tudo para não fazer com os outros, aquilo que não gostaria que fizessem com ela, talvez por isso algumas pessoas considerem-na tão fora de órbita. Sua frequência é própria, por isso conselhos raramente são seguidos, é que ela é dona de si mesma e por isso sabe muito bem em quem confiar. Prefere ficar confinada em si mesma; é um tesouro difícil de roubar, até mesmo pra mim, que furto risos por natureza, soube desde o início, que o melhor sorriso dela só viria com o tempo; com sinceridade e um resguardar. Mantém sua essência maravilhosa só pra poucos, com medo que que considerem seus trejeitos tão lindos, atos loucos.

-Num mundo de falsos normais, os assumidamente loucos é que são felizes - entoei entre tantas palavras proferidas, entre tantos momentos em que ela calava e me observava aturdida.
-Eu gosto do jeito como tu fala. - ela finalmente respondeu enigmática.
-Eu gosto do jeito como tu cala. - trepliquei me aproximando daqueles lábios que ela não parava de mordiscar, pra sua vontade segurar.
É seguro apontar que seu sol em Capricórnio, lhe deu bom gosto por músicas que carregam sentimentos que ela ama cantarolar; por filmes com finais felizes que gostaria de vivenciar; por tudo que lhe faz recordar os motivos pra acreditar que o mundo é bom pra viver. Logo, seria estranho não considerar essencial um olhar que carrega tanto ainda a ser conhecido; vivo, assim, cada dia, ansiando um convite pra acompanhá-la no caminho de pedras que ela decidiu trilhar apenas pros seus sonhos ir buscar.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Problema

Ela tem facas no olhar,
Que intimam a lhe roubar,
E se antes queria ser só,
Hoje vou é me agarrar nela,
Fazer da gente um nó.

Problema são as rugas,
Que o tempo há de riscar,
Problema são as fugas,
Que a distância há de criar.

Talvez seja covardia,
Não estou acostumado,
A ter alguém pra alegria,
O normal é que só esteja,
Eu, meu riso e cerveja.

Mas ela hipnotiza no rir,
É complicado resistir,
Não sei o que pensar,
Gosto de me inspirar,
Mas ela não é de esperar.

Problema são os atritos,
Que o tempo há de criar,
Problema serão descritos,
Quando a distancia se desenhar.

As chances de dar certo,
São as mesmas do errado,
Temo tê-la por perto,
Porque ainda permaneço,
Um romântico apaixonado.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

De Ressaca

Juro que não sei definir o que é. São os olhos. Sim, provavelmente, é o olhar que me deixa de ressaca. Anuviado, confuso, perdido e, ainda assim, com a sensação que vale a pena não controlar-me por inteiro.
Tenho apreço pelas palavras soltas que trocamos só por papear. Ela tem umas perspectivas diferentes, que não estou acostumado a encontrar. Escuta mais do que fala e seu corpo diz muito mais que suas palavras.

-Me fala mais, então - ela parece gostar da minha opinião.
-Não há muito mais o que falar não, teus olhos são verdes.
-Oxe, então eu posso relaxar só por causa da cor do meu olhar?
-Basicamente isso, porque eles remetem ao mar.
-Eu amo o mar!
-Você até o tem no seu nome...
-Exatamente!

Foi aí que notei que resistir se tornou um ato vão e não é surpresa que minha vontade seja tão. Principalmente quando ela, não sei dizer se por querer ou não, morde os lábios enquanto me encara sem se intimidar. Transbordo são, sabendo que posso me afogar naqueles olhos a esverdear, mas não consigo deixar esse gosto que tenho pelo mar; gosto de imensidão e há tanto naquele olhar.

Engraçado é que, na primeira vez que bati os olhos nela, não vi todo esse mar.
Na segunda, surgiu um interesse inapto que sempre nasce por sorrisos. Os dela são tão bem-vindos, não tem como não os achar lindos; sempre que ela os oferece, também me pego rindo. Foi natural, sem bem ou mal, roubar uns beijos, quando aquela noite chegou ao final.

Enfim pude perceber que ela é além do que, normalmente, espero encontrar. É o seu agir oblíquo; é o sorriso cigano; ela é o mar de ressaca, que numa onda súbita consegue me inspirar, que some na areia antes de eu lhe alcançar, que deixa rastros pra eu seguir, um convite inesperado pra mergulhar. Ela é de inspirar e que bom que eu pude lhe encontrar,

terça-feira, 3 de maio de 2016

Risco

Diz pra quê, se você,
Pensava no depois,
Já que deixou meu amar,
Sem parecer se importar.

Sem querer, tão você,
Deixou um vazio aqui dentro,
Me fez ter de mudar,
Sacudir poeira e voar.

Foi sim, sua triste doce surpresa,
Que fez mim, um céu riscar.

Pois numa vida incerta,
Risco me faltava,
Seu amor me fez sã e salva.

Como é bom ser toda alerta,
Riscar minha pele alva,
Os sonhos que me faltava.

Sei porquê, só você,
Pôde ser o que foi,
É que só o seu amar,
Me mudaria ao acabar.

Por querer, só você,
Sacudi tudo aqui dentro,
E aí pude sim notar,
Que eu sou de me bastar.

Pois numa vida desperta,
Risquei quem me salvava,
Era eu quem me faltava.

Hoje com tanta porta aberta,
Aceito o que me cativava,
E risco quem outrora amava.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Paradoxo (Aquarius)

Tomei nota que, apesar de falar tão bem do futuro, é no passado que o coração dela sente-se seguro. Se ela some, não é por mal, é que, às vezes, precisa tomar as rédeas das decisões que toma por puro capricho. Em delírios sãos, transborda toda a sua inconstância e faz isso com tesão, porque senão, joga tudo ao vento, já que se perder é seu maior objetivo.

Se fosse um objeto, seria um livro que ainda está sendo desenvolvido, um de vocabulários rebuscado e bonito, um daqueles que você precisa se concentrar pra entender o que nela há escrito, principalmente, porque, num piscar de olhos, muda a informação que tinha lá há poucos segundos. É um paradoxo sim, mas se troca de direção no meio do trajeto, não o faz por ruindade, é porque realmente acredita que é pra lá que deve seguir. Ela tem essa mania boa de contrário; de ter um orgulho que não pode admitir e de ser só carinho quando se menos espera, pois sua melhor definição é quebrar todas as esperanças.
-Não espere nada de mim. - me levantou o indicador num dos tantos dias em que estávamos ébrios.
-Não o farei - respondi num dar de ombros.
-Sério, eu sou muito de momento - ela me encarou com aqueles olhos profundos - gosto de decidir tudo de última hora.
-Discordo e concordo - acabei gargalhando, fazendo-a se eriçar.
-Como assim?
-Você não vive o presente, vive o passado e o futuro, isso que lhe faz tão imprevisível, então você não é de momento, mas, ao mesmo tempo, é o que decidir na hora.
-Eu sou um paradoxo? - ela constatou com os olhos brilhando.
-Será? - o beijo que ela me deu pareceu significar que gostou daquele elogiar.

A grande graça é que meu jeito de questionar, apenas por diversão, parece fazê-la gostar de ser assim: um conjunto de interrogação que, às vezes, também tem alguns pontos de exclamação. O que mais gosto nela é que, por ter o sol em Aquário, ela não cabe em si mesma, como se fosse de sua natureza transbordar apenas pra confundir, mas principalmente, pela forma como demonstra seu aparente súbito amor por mim: em doses de carinho espontâneas.