quinta-feira, 28 de abril de 2016

Abismo (Pisces)

Foi a risada dela que me chamou atenção, mas foi o olhar que fisgou de vez. Não precisei falar que a vida é viva, é mudança cíclica, sempre dinâmica, ela já sabia que o melhor é a jornada e não o destino. Em seus olhar dum brilho ímpar, pude notar que, pra ela, o mais importante são as pessoas que se encontra nesse caminho.

Caminhando de forma trôpega, como uma artista a pincelar aquarelas abstratas com os dedos, ela me encantou o suficiente para calar meus lábios que raramente se cansam de falar. Sorria de bem consigo mesma, como se todos os problemas do mundo pudessem ser resolvidos com um abraço e na hora que ela me apertou na nossa primeira despedida, não pude deixar de concordar com essa tendência. Tinha como inibir de me apaixonar?
Paixão é a vontade dela de se envolver em aventuras, sem se importar de mergulhar, pra se perder no abismo que é pensar em sentir. Ela fala de suas vontades sem condições, rancor ou maquinações. Prefere ser imprevisível no discurso, nos sorrisos e na forma como descreve seus sonhos.

Sonhadora nata, desenha no coração, mundos que não parecem existir; esculpe na mente, pessoas tão irreais; seria capaz de construir sua vida de sonhos, porque é capaz de ver o lado bom do mundo como ninguém vê.

Por ter visto nela, tanta possibilidade de felicidade, me atrevi de mergulhar num abismo de sensações que só pude provar no primeiro beijo que ela decidiu me presentear num dos tantos momentos que fiquei admirando-o toda sua profundidade. Sou felizardo, então, por não mais fazer parte da maioria das pessoas que só enxerga a sua superfície, consigo, hoje, vislumbrar todas as maravilhas submersas no olhar perdido dessa pisciana linda.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Oportunidade

Uma vez só na vida, vale a pena mergulhar de olhos fechados. Me dê uma noite de oportunidade.

O que difere um oportuno de um oportunista é mais que a lexialidade. Com um momento, um tipo misterioso pode ditar as únicas palavras que tirariam os trilhos de estabilidade da sua existência.

Existem quebras de paradigmas que expõe possibilidades incríveis. Quando lhe pedi permissão pra lhe roubar, não foi pra você se deixar levar, apenas queria uma cúmplice num crime que pode nos arruinar.

Sou uma ruína a tudo que lhe existiu até então. Odeio falsa modéstia, por isso tenho de lhe confessar que, provavelmente, sou um ponto crítico que não pode passar despercebido. Só por uma noite, uma única oportunidade de felicidade. A beleza das possibilidades.
Pode ser que esqueçamos de tudo amanhã, principalmente por causa teor etílico que nossa conversa faz questão de propiciar; pode ser que nem nos importemos quando o sol brilhar na próxima manhã, mas por hoje à noite, gosto da ideia de me arriscar. Desejo muito tornar em líbido toda a vontade que transborda da ponte criada entre o meu e o seu olhar. Cada mordida sua no lábio, cada suspiro soprado. Um único beijo e quem sabe o que poderemos vivenciar? Se a gente só vive uma vez, quero fazer de você a inspiração dessa noite e não há mais nada pra se preocupar, nada mais pra projetar. Um beijo roubado e arrependimentos não vão se criar.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Dia de Temer

Não só porque hoje é uma segunda-feira ímpar, mas hoje é dia de temer. Deixo bem claro que é válido, principalmente para reflexão, pois, sinceramente, só refletindo é que dá pra tentar entender o que está acontecendo com a gente. Ah e sim, o título desse texto é um trocadilho, porque como tudo que será exposto aqui, um trocadilho é um convite ao pensamento.

Penso que hoje é dia de temer, não o futuro do Brasil, porque esse já está em xeque há muito, sim o futuro dos brasileiros. Veja bem, hoje temos uma polarização, que, se fosse em outrora, poderia ser linda, porque seria erradicação da alienação, todavia, hoje, nada mais é a intolerância e o ódio se manifestando através de discursos apoderados. Temos claramente dois times e crentes diferentes: os vermelhos e os canarinhos. Existem vários rótulos e características pra descrevê-los, considero todas preconceituosas, já que no meio de ambos os grupos, existem representantes dos rótulos dos outros, engraçado, não? Os que usam a estrela como símbolo, acusam ser golpe, quando, na verdade, é apenas uma manobra da nossa pífia constituição. Desculpa, mas não é golpe. Golpe é quando a constituição para de funcionar. Se há algo a reclamar é de como nossa constituição não parece se valer funcionar pro que ela pareceu ser elaborada pra ditar. Aos paneleiros tenho de avisar: não há luta contra a corrupção. Até porque não se pode erradicar uma característica cultural de um país. Erradicar a corrupção é uma utopia como a acabar com o futebol ou a nossa principal religião. E sim, estou envolvendo os três temas que não se "deve" colocar em discussão, porque sim, a ideia disso aqui é levantar questionamentos que não se faz há bastante tempo.
Se você chegou nesse trecho do texto, quer dizer que, minimamente, não faz parte da corrente do ódio. Existe um motivo pra que eu não tenha opinião decidida: não há unanimidade nessa situação. Me situo apenas como um individuo que tenta entender toda a informação que recebe e, na maioria das vezes, questiono a opinião do discurso. Desde que o Brasil (felizmente) começou a conversar sobre política, fiz questão de sempre propagar minha omissão de opinião, exceto para aqueles que a solicitaram de bom coração. Não é que eu não tivesse opinião, é só que eu, raramente, me senti à vontade em combater ódio com argumentos. Entendia (e ainda entendo) que estamos vivendo um momento interessante da nossa formação política: a transição da alienação política (iniciada nos anos 90 do século passado) para a ignorância. Não é aula de história, não é sequer relato da minha memória, é apenas conclusão óbvia. Hoje, somos ignorantes e isso não é de todo ruim. Um exemplo disso é o fato do país solicitar (não importa que parcela da sua população) dois processos de impeachment em 7 eleições. Se levar em conta as reeleições, é como se a cada 3 presidentes, um os brasileiros não soubessem eleger. É ignorância sim. E aqui, tenho de definir que ser ignorante não é de todo ruim, é apenas admitir a capacidade de aprender, porém, por aqui, ser ignorante soa como algo bastante negativo.

Negar essa situação é que seria maléfico. O que nos falta é educação. E não, não estou falando do ensino que recebemos pra passar em provas. Esse ensino é até interessante, mas, raramente, nos serve de alguma coisa além do que vivenciamos nas escolas. Precisamos nos educar e, para isso, é preciso buscar conhecimento. Não aquele que nos é fornecido a todo momento. Ser passivo é aceitar o que é imposto sem motivo e, por consequência, acatar as decisões de quem quiser ser ativo. Atualmente, a grande maioria dos brasileiros é passivo politicamente, elege um dos candidatos que tem chance, porque não dá pra jogar fora seu voto, certo? Discordo veementemente. Meu voto é nulo e não sinto que estou jogando ele fora. Não vou votar no menos ruim porque tenho medo do que o pior possa fazer com nosso agora. Votarei apenas num candidato que mereça minha confiança e isso vale, não só pro executivo, como pro legislativo também. Até ontem evitava falar meu voto, porque se ele é secreto, porque preciso divulgá-lo? Não é por medo, é por ter certeza que poucos entenderão minha escolhas e menos ainda não me atacarão com indignação.

Indignado fico com o ódio propagado pelas ideologias que nada tem de política. Os vermelhos vestem essa cor por se sentir minoria e pessoas que olham pelas causas sociais, concordo que fazem isso mais que os outros, mas isso não os torna justiceiros legais. Os canarinhos clamam por um país melhor, mais justo, que basta de roubalheira, quando, na verdade, são aqueles que são coniventes com a maior parte dessa má brincadeira.

Sinto que estão brincando, ou não sabem do que falam, quando escuto dizer que é um golpe. Desculpem-me, vermelhos, mas não é. A nossa constituição que deveria ter sido feita pra trazer a voz do povo de forma representativa para a câmara de forma a criar leis e legitimar a voz das ruas, nada mais é que uma fachada, pois nos últimos vinte anos, quem mais tem legislado o país é o executivo e o judiciário (através de decretos e súmulas vinculantes, respectivamente). Nossa constituição é uma concha de retalho, se você protesta contra o golpe, você, na verdade, deveria protestar contra uma constituição tão pífia e, isso sim, seria um golpe. Entende a contradição?

Contradito também o discurso canário, quando eles cospem palavras que é pelo melhor da nação, erradicar a corrupção. A nossa cultura nacional (infelizmente) foi construída alicerçada na ideia de ganhar do próximo. Contudo, não é questão de produzir mais que ele e sim de tirar o que é dele. Daí nasceu o histórico malandro, o famoso jeitinho brasileiro e o atual zueiro. Somos assim porque mais de dois terços da nossa população se originou contra sua vontade e o poder nunca esteve preocupado em ajudá-los.

Ajuda-me, aqui, nessa altura do texto, definir constituição: é o ato consciente de tomar uma atitude, previamente entendida como incorreta, para beneficio próprio. Lamento em dizer, mas você é corrupto. Quer testar? Você já atravessou fora da faixa de pedestres? Corrupto. Entende a contradição? E não adianta dizer que isso não faz mal a ninguém não, é corrupção. Enquanto não fomos educados a não tentar nos beneficiarmos do bem comum, continuaremos pensando só no um e não no todos. É nossa cultura, não dá pra erradicar (vale citar que em vários países, nem se cogita atravessar fora da faixa, só em caso fortuito e isso não é considerado benefício próprio).

Sentindo que, minimamente, desconstruí os dois grandes argumentos do ódio propagados ultimamente, finalmente, posso definir o objetivo desse texto: o que você pode fazer pra mudar nossa contexto? Parece ser bem louco, porém, agora você pode começar fazendo bem pouco: estude. Há quem vá dizer que irá fazê-lo, contudo, não o fará, porque em mais uma das falhas da nossa formação cultural, acreditamos, intrinsecamente, que os estudos são cansativos e não glorificam, principalmente em áreas que pouco nos irma melhorar. Pra quê, então, estudar politica? Simples, pra saber em quem votar. Pra não temer mais o dia que irá chegar. Estudem sobre seus candidatos, os planos de governo dele, quem sabe assim, não precisemos mais protestar contra aqueles que elegemos.

Se você leu tudo que explanei, primeiro obrigado pela paciência e por último, espero, sinceramente, que sirva de reflexão. Se você for pra rua, não carregue discurso de ódio não, chega disso, todos, mesmo que em óticas bem dispares, queremos o melhor pra nação.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Castelos de Areia

Você já conseguiu ler,
O romance que foi escrito,
Sobre a nossa história?
Ficou tão bonito,
Nem parecia ser,
Baseado nas nossas memórias.

Agora, estranhos chegam perto,
Achando nos conhecer bem,
Sem saber ao certo,
Que fomos tão mais além.

Vivemos nessa realidade,
Concretas como castelos de areia,
A procura de sanidade,
Aceitando verdades alheias,
Como se fossem nossas verdades.
Buscando júbilos contagiante,
Esbanjando aflições dilacerantes.

Nos rotulamos como casal,
Aceitamos ser mais bem do que mal,
Colocamos forcas nominais,
Que tiraram nossa paz,
Pensando que era tão divertido,
Tolos, bobos iludidos.

Descobri ontem à tarde,
Que ainda falam da gente,
Como um amor tão forte,
Permeando em alardes,
Pessoas com tanta sorte,
Que jamais fomos, infelizmente.

Contudo, mantemos lembranças,
Dos sorrisos tão bons,
Suspirados nas tantas danças,
Orquestradas pelo nosso tom.

Alicerçamos nosso tipo de amor,
Como um castelos de areia,
Esquecendo da vindoura maré,
E nos divertimos com louvor,
Alimentando a tola e boa fé,
Que não teria destruição alheia.

A ruína se fez naturalmente,
Não acinzentando as fotografias,
Que capturamos, pra permanentemente,
Guardar no coração com nostalgia.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Detalhes

Aquele sorriso a levou pra longe, fazendo o tempo passar, como há muito não se fazia disparar. Surgiu, repentinamente, numa tarde qualquer. Ela lembrava sim, com detalhes demais para se fazer esquecer que, apesar de coadjuvante de uma situação em que ambos só podiam observar, se fizeram protagonistas de detalhes em particular.

Partilharam risos divertidos e na hora de se despedir, ela sentiu que gostaria de ficar mais. Chegou em casa sem lembrar como era ter paz. Havia tanta saudade em seu peito, de sentimentos que vivia inibindo, vivendo num mundo otimista que tinha de alimentar para não se amargurar.

Amarga foi a sensação que ficou depois da ausência seguida do primeiro roubar. Os quarenta centímetros que ele enumerara como quatro mil milhas, pareceram aumentar, até que, sem querer, sem nem planejar, descobriu de um passado que não poderia ignorar.
Optou por se fazer ignorante às máscaras que ele sobrepujava no coração. Tinha tantas verdades que não queria encarar, sobre sua vida própria, que não seria problema aceitar mais uma mentira. Deixou o tempo passar, tratou de aproveitar as verdades, que eram tudo que parecia lhe importar.

-Assopre as velas - ele lhe disse rindo, entre beijos no pescoço.
-Que velas?
-Do seu bolo de aniversário.
-Mas hoje não é...
-Dos que já passaram - o sorriso audacioso dele a faziam indagar quanta astúcia ele podia carregar - você já viveu muito para continuar tão tímida.

A primeira noite deles foi muito mais do que linda. Tanto que agora, enxergando a chuva que não parava de lhe fustigar, três meses depois da última palavra lhe falar, àquelas memórias, seus detalhes, e as velas que ele lhe sugerira, ainda não conseguia apagar.

Apagaria, se pudesse, o tanto dele que permanecia em si: o olhar selvagem, o tempo e as viagens, cada lembrança, cada paisagem. Todos os momentos que falaram sem parar, principalmente o que o silêncio de ambos nunca chegou a lhes incomodar.

Apesar de cômodo, o agora era acinzentado, por saber que mesmo eles pertencendo apenas ao passado, notar, diariamente, que ainda mantinha segredos escondidos, já que em vários diálogos teve seus lábios mordidos, por ninguém menos que ela mesma, por medo de revelar seus próprios detalhes a todos desconhecidos, seus sonhos loucos demais para serem proferidos. Por mais que lutasse contra aquele defeito, não conseguira mudar o fato que tinha uma voz fraca pros pensamentos que transbordavam sua mente.

Mentia ainda, mesmo tendo passado tanto tempo daquelas memórias lindas, para tentar afastar cada detalhe dele. Para inibir de si a sensação que nunca sequer chegara a ser um amor pra ele. Fora apenas companhia embaixo dos cobertores, preenchendo espaços vazios que o coração, declaradamente, deformado dele tinha. O calor que ele precisara em tantas situações desfavoráveis.

-Por favor - entoou para si e para a chuva - apague essas velas e os detalhes dentro de mim.