quinta-feira, 30 de abril de 2015

Lindo Azul

Queria te fazer um convite,
Pra gente ficar junto,
Papeando sobre tudo qué assunto,
Pra gente entender bem,
Tudo isso que a gente tem.

Quero uma noite sem limites,
Pra gente poder se soltar,
Deixar que esse apaixonar,
Realize-se como tiver de ser,
E se permita acontecer.

É meu benzinho,
Quero logo te encontrar,
Pra te dar todo o carinho,
Que de mim não para de transbordar.

A gente tá nessa sincronia,
Em que as trocas de palavras,
São a alegria do dia,
E tá faltando apenas,
Dançar agarrado a tu.

Porque eu só vejo amor,
Quando fecho meus olhos,
Tudo se enche da nossa cor,
E só há tu, minha morena,
No nosso doce lindo azul.

Você aceita então?
Uma noite na companhia,
D'eu, as estrelas e a lua?
Pés descalços sujos da rua,
E minhas mãos serpeando as tuas?

Diz que sim pro meu coração,
Faz ele batucar de alegria,
E vamos dormir agarrado,
Deixar que nosso conto apaixonado,
Se faça real além dos olhos fechados.

Precisamos de só uma chance,
Pra pintarmos o mundo,
Com a cor desse romance,
Nesse nosso lindo azul,
Que é de mergulhar fundo,
Como eu sou feito pra tu.

terça-feira, 28 de abril de 2015

Só Quero

Passando com a minha bicicleta por uma das pontes que sou tão apaixonado, cantarolando músicas felizes demais para uma terça-feira à tarde, mal percebo que as pessoas me olham estranho: o trânsito está infernal e elas não sabem o que estou sentindo no peito; elas não tem como entender que eu tenho lembranças boas demais transbordando na mente e que fazem meu coração batucar mais que orquestra de frevo. Basta eu fechar os olhos e consigo repetir tudo que aconteceu: o seu riso, o brilho no olhar, o primeiro beijo semi-roubado e tudo tão sincronizado; eu esperava seguir andando normalmente ao fim daquela tarde, mas você deixou uma brecha pequena e assim que segurei sua mão, percebi que não iria ficar pra trás, que naquele pulsar, as coisas iam ser bem diferentes.

A bem verdade é que depois de tanto tempo escrevendo sobre o assunto, buscando desesperadamente encontrar algo que se assemelhasse ao que persegui por toda a vida, seria normal que eu tivesse vontade de desistir, porém acho que nunca perdi as esperanças. Bastava eu olhar pro azul que tem no céu e meu coração já voltava a imaginar como seria quando eu a encontrasse, e agora que acho que aconteceu, as mãos tremem, as borboletas levantam voo na barriga e o sorriso não consegue parar de se expor no rosto até as bochechas doerem.

Ainda bem que não é tão fácil, senão, talvez não seria tão mágico, só que, sejamos sinceros, nem de longe é tão difícil assim: estamos presos numa encruzilhada em que o destino está nos dando tanta certeza que não é de impressionar que, a gente, vez ou outra, se amedronta, entretanto, por agora, eu só quero que você deite seu corpo e relaxe; eu estou aqui, pra que você cole em mim, então, bela menina, vem cá que fui feito pra isso mesmo, pra ser um meio da conchinha só nossa.

Você não sabe, mas em quase todas as noites, enquanto minha cabeça repousa no meu gostoso travesseiro quando deito na minha cama, sinto que algo está faltando e consigo visualizar você colocando um pijama todo solto antes de dormir, fazendo sentindo algo semelhante ao que está dentro de mim, e aí eu meio que esqueço de tudo um pouco: perco-me em devaneios que só acreditava existirem em obras ficcionais.
Esses dias tem sido tão engraçados  que consigo repousar livre de preocupações, pensando que se tiver de fazer sol, que ensolarado seja feito, e se tiver de chover, que venha pra me encharcar, desde que seja apenas pra dançar descalço ao seu lado. Tudo que virá, que seja ao seu lado.
Ainda bem que não é tão simples, senão, sabemos que não seria tão único, mas nem de longe é complicado assim, nós, de repente, chegamos a essa boa encruzilhada que parece querer nos levar pro ponto em que sempre sonhamos chegar, e eu só quero que você deite seu corpo no meu; quero que seu cheiro seja mais meu que seu, um misturado que nos deixe ainda mais apaixonados; que seu gosto seja nosso, de uma forma eu não saiba mais diferenciar o que era meu e o que era seu, até porque o que vai importar mesmo é que será só nosso; que sua pele seja um livro em branco preu fazer meus lábios de caneta e preencher com toda a paixão que transborda de mim.

Coisa divertida é que tenho acordado assim desde que estamos nessa, imaginando tudo que a gente tem sem ter, e no que ainda vai ser, porque nossos sonhos, aos poucos, vão quebrando as barreiras dos medos que a racionalidade nos impôs.
Então, bela menina, deite o seu corpo ao lado do meu, seja do meu coração, o apogeu, e não se preocupe, de alguma forma que não consegui entender ainda, você já me fez todo seu, e é exatamente o que quero: você, só quero você.

domingo, 26 de abril de 2015

Coração Romeu

Recife, Pernambuco,
Terra dalvorada,
Sou amor, sou maluco,
Dalma enamorada,
Dos trombetes e tambor,
Dum carnaval chei de cor.

Canceriano sim,
Do tipo todo exposto,
Esbanjador de tantos sorrisos,
E gritos sem prévios avisos,
Pra lhe ver corar o rosto,
Ao enumerar assim,
O que você já é pra mim.

É linda, é rima,
Me anima, põe pra cima,
É meu último pensamento,
E mesmo sendo platônico,
Todo esse inusitados sentimento,
Ainda quero mais e mais.

Não tou muito confiante,
Nessa reciprocidade,
Mas me permiti arriscar,
Acredito que a realidade,
É da nossa aura resultante,
E assim deixei-me apaixonar.

Sou todo contumaz,
Me coloquei fora da curva,
E se ainda resta dúvida,
Tou pronto pro que vier,
Se isso ainda lhe aprouver.

Tou aberto ao que a vida deu,
Tou aberto aos planos de Deus,
Entre idas e vindas,
Uma bailarina me é muito bem-vinda.

Plante-me um pouco,
Deixe-me rouco,
De tanto falar besteira,
De tanto querer-lhe inteira.

Você não percebeu?
Acho que ja sou todo, todo seu,
Meio perdido, meio louco,
Totalmente aturdido,
Pelo dom que Deus me deu,
Ser dum Coração Romeu.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Se Revela

Tem dia que acordo assim, com palavras demais na cabeça e no peito, palavras que suplicam pra se ajuntar num papel. É estranho, é complicado e mesmo assim ela entende. Que sintonia, que simpatia, que loucura é tudo isso. Existem loucuras ruins, eu bem sei, mas a nossa me tem feito tão bem, que às vezes eu tenho medo de ser uma linha de um ponto só. Vira e mexe a gente tenta, entretanto o tempo não tem sido muito legal conosco, tem nos testado e intensificado mais ainda isso tudo, que transborda tanto.

Transborda, sim, é principalmente isso. Ela meio que se bordou num apego desapegado, num aconchego tão apertado, só que ainda um pouco mais, por isso que ela supera a borda. Transborda admiração, vontade, reciprocidade e sonhos. E não para por aí, ela ultrapassa tudo que eu me acostumei a sentir e esperar. Transpassa o usual, o comum, o que a vida normalmente oferece e o que mais possam dizer que vai acontecer. E o que acontece, apesar de eu não me sentir muito confortável em admitir, meio que pira. Boa parte do meu eu suspira, e respira a cada palavra que ela me dá. O seu riso me inspira e sua personalidade transpira um algo atraente demais que só posso caracterizar como um encontro celestial.
Ela é sim,
Muito especial,
Duma sincronia astral,
Duma atração pra mim.

E eu quero, sim eu quero muito. Quero me embriagar com seu sabor, tragar seu aroma, afogar em seus braços, vidrar pela sua dança e absorver sua voz. Quero, quero e quero muito. Quero cheiro, gosto, carne e voz. Perder-me nas curvas dos olhares e risos, desenhar cada rabisco que já existe seu corpo. Ah como eu quero e espero, que o tempo nos seja amigo. Porque é com chance que se faz romance. É com oportunidade que se faz felicidade. É com ela que meu coração se revela.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Miss Cold Heart

Never thought that I could be,
The guy who's a witch's pawn,
But in a friday dawn,
It was just what I see,
Me being a foolish man.

Took someday's until I realize,
That was never love,
It was something above,
A possession from your mind,
How I could be so blind?
You always was the Miss Cold Heart.

So, why I try it?
I was too stupid?
Or just its works of cupid?
I really don't know,
And now, I don't give a shit.

I decided no more says,
But I woke up today,
And feel me an strange way,
So this gonna be one special gift,
My last words for you,
The words that you used to love.

Was a funny type of love,
Don't you think?
Out of the blue, you put a end,
Without no warnings send,
And I just took a breathe,
Because its all I could do.

It's just some words,
About our game that never was for two,
Always be just you,
Your imagination,
And a cold heart temptation.

Live your life free,
Freeze another someone,
But when all of your games done,
Don't come to back to me,
Please go to another way,
Go find you lovely foods,
And put me out your crazy moods.

So Miss Cold Heart,
This is the last song,
That I write to you,
And if you always love them,
Enjoy this last one,
Because me and them no more belong,
To your possession depart.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Fugitivos

Cabelos negros esvoaçados pelo brisa de veraneio. Uma garota de olhos achocolatados com um nariz afilado pronto pra encarar qualquer desafio sem perder a compostura. Eu estava vivendo de caçadas há muito tempo, e foi naquela tarde que minha rotina entrou em colapso quando ela sorriu pra mim um riso que mais tarde eu saberia que era minha ruína.

-Não precisa ter pressa - ela dissera - somos jovens, mas não estamos fugindo de ninguém - eu assenti e tentei domar meu imediatismo. Como poderia explicar que era do tempo que eu estava tentando fugir? O maldito tempo que sempre vinha corroer tudo de bom que eu construí na minha vida?
-Bom, nós não temos muito tempo - eu me referia ao fato que ela iria para outra festa ainda naquela noite.
-Podemos sempre esperar até amanhã - podíamos? Eu não tinha certeza - contanto que você não esqueça meu nome.
-Eu não vou - deveria ser uma promessa vã, como tantas que eu já fizera na minha vida, mas não foi. Não com ela. Aquilo era real, e mesmo eu querendo lutar contra, nunca fui bom em mentir para mim mesmo.

Ficamos noivos numa quarta à noite, era o nosso dia. Jurei sobre nossos filhos que ainda iriam nascer que eu iria conseguir cuidar de todos nós, porém na hora, não pesei sobre tendência humana de fugir de problemas. Quando as noites ficavam difíceis, me batia uma vontade de abrir as asas e voar para longe, era genético. Só que ela não gostava de ser contrariada, eu ainda não sabia, mas ela planejara piamente me conquistar e possuir por um capricho egocêntrico, e assim ela pegou minha mão e disse que poderíamos fugir pra outro lugar. Como eu poderia explicar que era da nossa felicidade que eu estava querendo fugir? Estava muito bom para ser verdade, ela tinha de ter defeitos certo?

Eu fiquei, plantei raízes, mesmo meu coração me dizendo o tempo todo pra fugir. Eu sabia o quanto eu havia segurado-a e não iria soltar por nada, só que, como eu previra, o tempo não tardou em vir buscar o que lhe era seu de direito. Seus defeitos eram tão parecidos com os meus, só que de uma intensidade desproporcional. Eu era tolo, acreditei que ela iria querer mudar como eu sempre quis quando deixava meus defeitos sobrepujarem minhas virtudes e assim eu fiquei, e acreditei no melhor dela.
A rotina nos consumiu, éramos apenas cascas vazias da essência que costumávamos ser. De pouquinho em pouquinho nossas metas particulares ribombaram mais alto do que a sinfonia que nosso amor tocava e uma distância foi crescendo entre nós.

-O que aconteceu com a gente? Costumávamos olhar as estrelas e confessar nossos sonhos; abraçamo-nos até amanhecer e no raiar dos domingos, não levantávamos até ter certeza que nosso amor se fizera presente. Costumávamos rir, agora só brigamos, você não se sente sozinha agora? - eu tentei remediar lhe alertando sobre a nossa situação, mas ela apenas se calou. Apenas deixou lágrimas caírem e num impulso inesperado, pediu-me que ficasse. Eu deveria ter negado, eu deveria ter sacudido as amarras das minhas asas atrofiadas e partido dali, mas não o fiz. Tudo pra pouco tempo depois, alçar um voo tropego e deixá-la no meio de uma das piores tempestades que suas escolhas lhe levaram.

O hiato nunca teve chance de se desenvolver, ela me procurou indo contra toda a natureza de seu nariz afilado. Eu quase sucumbi, e ao renunciar ao seu pedido, soube que era o certo a se fazer. O tempo iria nos fazer mais mal se estivéssemos juntos, do que separados, ela teria de entender isso. E assim o hiato se perpetuou, até que um sonho me sinalizou que canecas quebradas podem ser coladas. Foi nisso que eu acreditei quando fui até ela, mesmo quando minhas asas começavam a se re-acostumar com as caçadas.Um tolo esperançoso. Sentia-me responsável pela felicidade alheia ante a minha e assim voltei a sacrificar-me numa situação pouco aprazível.

Havia um medo dentro de mim que nunca houve antes: a certeza que mesmo sendo transparente e renovando as juras que havíamos feito anos antes na mesma praia, ela estava diferente. Era como nossos laços fossem espectros do que costumavam ser, e as fotos que recolocara nas paredes estivessem me alertando do final trágico que nos aguardava.

Rompemos definitivamente numa quarta à noite, era o nosso dia. Jurei que não iria amaldiçoá-la, como fizera com todas as outras pessoas que haviam mutilado meu coração. Com ela tinha de ser diferente, e foi. Percebi que desde que nos conhecemos, éramos apenas fugitivos. Isso até descobrir que a fuga dela nunca foi sobre mim e sim sobre ela mesma, e isso fez com toda consideração que tinha pelo nosso tempo, se tornasse desprezo.

Tentamos o máximo que pudemos fugir do tempo. Tentamos ter um algo atemporal, mas falhamos como tantos outros, e agora fugimos disso. Fugimos das lembranças e do que pra mim foi um tipo de amor (mesmo que sem reciprocidade), como tentamos fugir do tempo, na esperança, que pelo menos essa fuga dê certo.

domingo, 19 de abril de 2015

Um Beijo de Escorpião

Ela era diferente,
Bela menina,
Nada de passado ou futuro,
Sua personalidade era toda presente.

Um beijo de câncer,
Falou-me que era diferenciado,
Devia ser dum carinho aprofundado,
E por isso ela riu,
Após nosso primeiro beijo pausar,
Para a ternura dos meus lábios apontar.

Foi uma estranha sensação,
Com ela, eu era a caça e caçador,
O analisado e analisador,
Entre felinos e caninos,
Senti que ambos eramos vulpinos.

Entre entendimentos astrais,
Confissões pouco usuais,
Ela me surpreendeu bastante,
Deveria ser uma conversa qualquer,
Mas ela era muito cativante,
E, de repente, conversamos até sobre fé.

Ela era tão contente,
Bela bailarina,
Dançando na luz e no escuro,
Com sorrisos que me foram valiosos presentes.

Um beijo de escorpião,
Eu lhe brinquei que me deixaria aturdido,
De um fulgor cheio de líbido,
E por isso ela riu,
Após nosso último beijo pausar,
Para a surpresa nos meus olhos apontar.

Não é sobre o que foi,
É sobre o que é,
O que poderá ser,
Sou desses que a olha pra frente,
E acredita, de repente,
Na vida ser de florescer.

Eu sei que houve reciprocidade,
E talvez, por esse motivo,
Que o sentimento se mantém vivo,
Aguardando uma oportunidade,
Que o tempo parece querer nos dar.

domingo, 12 de abril de 2015

De Repente

De vez em quando eu ajusto meu ritmo pra refletir sobre mim mesmo. Não sei exatamente como eu cheguei aqui, estou mais velho, mais sábio, tão errôneo quanto sempre fui e, ultimamente, percebo que tem sido mais difícil do que no passado.

Então, de repente, o tempo já está passando. Fica difícil de admitir, difícil até de aceitar, mas eu não vou ser o que gostaria de ser, porque num desses dias quaisquer que estão por vir, eu vou simplesmente acordar e percebi que já cresci.

Não é uma tragédia, nem sequer um descontentamento, apenas meu eu presente sendo sincero com meu eu futuro. As coisas não vão ser como planejei; as expectativas que deveriam ter sido reduzidas a zero, acabaram ficando fora de controle e tenho que tentar minimizar o grau das decepções que vou gerar. Chegou a hora de admitir que meus planos utópicos dificilmente sairão da minha mente sonhadora e de adequá-los a minha real capacidade de conquistar o que almejei.
Eu não me tornei um pessimista, nem nada do tipo, ainda tenho sonhos, eles não são os mesmos; eles não voam tão alto quanto costumavam voar, porém ainda estão no céu.
Então, de repente, o tempo já passou. Foi difícil de admitir, e principalmente de aceitar, mas eu não sou quem eu quis ser. Sou um alguém diferente, um alguém bom o suficiente para mim mesmo. Percebi que lutar contra fantasmas de expectativas não me fariam bem nenhum. Simplesmente abri as velas do barco, deixei o vento empurrar e toquei o timão pra direção que mais me aprazia. É onde estou agora: rumo ao que eu puder conquistar, sem muitos planos, cobranças e expectativas.
Ainda tenho o tempo, ainda tenho a fé, conto com meus irmãos que a vida me deu. Eu tenho uma mãe, eu tenho um pai, mas às vezes eu acho que eles não me têm, porque simplesmente nem eu me tenho. Nunca quis ser ingrato, mas se minha natureza me fez assim, então é assim que é e será. Sou um, nem melhor, nem pior, apenas um, que sonha por dois, mesmo sendo apenas um. Por isso escolhi o número vinte e um pra carregar comigo. O número que simboliza minha sina e minha fé. Que guarda o que foi bom no passado e o desejo de um futuro linear. Se as conquistas vierem, se os sonhos se realizarem, será o que tiver de ser.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

De Mergulhar

Eu nunca entendi direito porque me fizeram um ser tão racional se a maioria das situações que ocorrem em minha vida não tem um pingo de racionalidade. Entre infinitas tentativas pífias de mapear, equalizar, equacionar ou racionalizar de qualquer outra forma entendível a um ser que ama números e ciclos, minha vida se resume numa montanha-russa que nunca termina a volta. Obviamente que em alguns momentos as curvas que me pegaram de surpresa pareceram extremamente iguais àquelas que já haviam me socado forte no coração num passado em que eu era bem mais inocente, porém, nunca foi na mesma intensidade, então qualquer precaução ou imunidade que achei que detinha, não funciona e lá vou eu ser influenciado pelos solavancos que essa nova curva me traz e aí, mais uma vez eu perco a oportunidade de mergulhar pra uma situação melhor.

Às vezes eu gostaria de esquecer um pouco de tudo que eu já aprendi, de tentar não pensar em teoria econômica e principalmente tentar não entender o que houve. Muito mais fácil seria ser ignorante e aceitar o que a vida me dá como vontade divina, mas não é assim que é. Sou esclarecido e tento entender tudo que acontece ao meu redor, mesmo que a maioria disso não possa ser entendido, e isso me frustra. Sei que não deveria, mas fico frustrado por não entender, não racionalizar e não conseguir prever o que estava por vir, e principalmente, não me precaver para passar por essa cuva de forma suave e sem sentir nada. Não, a vida não me deu essa habilidade, e acredito que não deu nem dará a ninguém. A vida é incerta, e essa é a sua maior beleza.

Acontece que, atualmente, eu deveria estar imerso num marasmo, deveria porque era o ciclo natural que eu desenhei na minha cabeça, entretanto, como já explanei não está sendo bem assim. Eu sou de mergulhar, e acabei me projetando em águas mais tépidas do que a corrente fria que minha vida estava tentando me arrastar.

Eu apenas me cansei das mentiras que tenho de escutar diariamente, principalmente as que vem de mim mesmo. Percebi que não preciso me moldar pra ser aceito, e sim me aceitar para entender qual é a minha moldura. Meu melhor amigo me disse uma das críticas mais construtivas que recebi na minha vida: sou muito negativista e não enxergo o lado bom da vida. Ele estava certo, e isso me entristeceu. Porque eu sempre me esforcei pra ser feliz, e raramente aceitei a felicidade que estava na minha porta, acho que por isso decidi mudar, decidi começar a mergulhar mais no que a vida me oferecer.

Ela surgiu quando eu estava saindo da concha e me encantou porque era de encantar. Apenas uma tarde e foi tudo tão diferente que eu até fiquei com medo de dar continuidade. Por motivo e sentimentos exógenos ao que senti naquele dia, eu me afastei pra resolver pendências que eu me sentia responsável, afinal eu vou sempre ser responsável por aquilo que cativei, e não consigo deixar isso de lado, mesmo que meu coração me dizendo pra deixar.

Só que ela não sumiu, ela ficou, de uma forma diferente, mas ficou. E por mais que eu tentasse dizer a mim mesmo que não era, sempre foi. De alguma forma, o paraíso astral que eu sempre acreditei e estudei existiu com ela, e todo contato que tínhamos me fazia repensar se já não estava na hora de abandonar minhas responsabilidades e seguir uma possibilidade que meu coração teimava em martelar. Acontece que a vida é incerta e, pegando-me desprevenido, mandou-me direto pra possibilidade. Parecia destino, parecia mágica, parecia sorte, e talvez fosse um pouco de tudo. Então por que eu deveria esperar mais? Por que eu não deveria mergulhar?

-Eu quero te fazer uma pergunta muito importante.
-O que é?
-É meio simples até, haha - respirei fundo, porque sentia que o encanto poderia se acabar a depender da resposta dela - o que tu pensa do mar?
-Eu amo o mar - e ela me contou uma experiência de vida tão linda, que soou como a vida me empurrando mais ainda prum mergulhar. Ela vivenciou exatamente o que fiz o protagonista do livro que escrevi vivenciar. Essas coincidências me quebram as pernas do coração.
-Pode ser loucura, mas tu toparia ir pro mar comigo?
Ela demorou a responder, e mais uma vez eu tive medo que a magia fosse acabar.
-Super topo - e sem perceber, já havia um grande sorriso no meu rosto.
Vou levá-la ao mar, vou me levar ao mar. Porque é o que mais quero e o que mais preciso pra agora.

Ela é muito mais do que eu deveria merecer nesse momento, ela dança, diverte, encanta e canta uma parte de mim que eu não lembrava de existir. Às vezes, me impressiono como existem pessoas incríveis no mundo, são descobertas assim que me fazem repensar meus horizontes. Ela é assim, é loucura eu sei, e não deveria ser, mas quando penso nela, a possibilidade tão remota se propaga prum futuro promissor, sem controle algum, já estou imaginando o nome dos nosso filhos. Sou assim mesmo, sou de câncer, já passou da hora de admitir que eu nasci pra mergulhar: no mar, e me renovar pro que a vida tiver que me dar, e principalmente pro amor, que é onde eu sempre vou estar imerso.

sábado, 4 de abril de 2015

Um Amor de Asas e Raízes (Nefelibato e Teluriano)

-Bem, eu sou uma pessoa nefelibata e você uma teluriana.
-É o quê?
-Eu sou nefelibato, aquele que anda nas nuvens: um sonhador nato. Você é teluriana, que está presa a terra: que não consegue se afastar da realidade. Somos opostos sabe? E juntos nós chegamos a um equilíbrio sensacional.
-Quer dizer então que eu não posso ser carinhosa?
-Claro que pode, mas é que eu fico desnorteado quando recebo seu carinho... Fico feliz demais. – e ele a abraçou com força.
Ele queria explicar a ela tudo que se passava em seu coração. Tudo que que se amontoava em sua mente, mas era complexo demais. Por isso ele perdia tanto tempo colocando as epifanias que tomavam o peito, a cabeça e alma em palavras tortas e torpes que preenchiam seu caderno de anotações. Eram todas palavras pra ela, sobre ela.

Tinha escrito, recentemente sobre o assunto. Sobre os Nefelibatos e os Telurianos; sobre os alados e os enraizados. Ele já havia sonhado tudo sobre eles. Seriam um amor digno de uma obra-prima. Ele que sempre sonhou em ser protagonista de seu próprio romance, havia encontrado seu par ideal. Por isso todo dia ele se desdobrava em várias formas diferentes de demonstrar pra ela o quanto aquele amor deles era sensacional.

Lá no fundo ele tinha medo do futuro e queria aproveitar apenas o agora. Uma vez, seu pai lhe contou sobre seu primeiro amor, e em como esse sentimento atemporal, infelizmente não obedece as leis da física. Ele tinha de aproveitar a oportunidade que a vida lhe deu, e era isso que ele estava fazendo agora. Antes que a rotina pudesse conturbar aquilo que eles tinham, ele tinha de plantar nela a semente certa para germinar em algo forte o bastante para suportar qualquer problema que surgisse no futuro. Uma semente forte o suficiente para impedi-lo, inclusive, de voar para longe quando os problemas aparecessem. E ela era a pessoa certa pra isso, por ser teluriana. Ele, nefelibato, procurara por toda sua vida o coração certo para plantar aquela semente, e era nela. Naquele sorriso extraordinário e naquela pessoa tão certa de tudo que ele iria apostar todas suas fichas como nunca fizera antes na vida.

Na concepção dele, existem dois tipos de pessoas: as que criam asas e sentem necessidade de ir e àquelas que criam raízes e não conseguem abrir mão de ficar. Ele era o primeiro tipo e ela o segundo, mas ele não gostou do conceito original. Alados e enraizados eram palavras simples demais para descrever o que eles eram, por isso ele criou uma neologia pra eles.

Ela, teluriana e enraizada, era firme, pronta pra aguentar todas as intempéries que a vida apresentasse. Não que, às vezes, a vontade de ir não lhe surgisse, mas ele sabia, de alguma forma sabia, que ela nunca iria partir. Ela iria ficar, iria acreditar, iria esperar. Ela era o ninho, a casa, o suporte. Tudo que ele sempre sonhou em achar.

Ele, nefelibato e alado, era solto, pronto pra buscar novas fontes de alegria e se modificar no que tivesse de ser. Não que, às vezes, a vontade de ficar não lhe surgisse, mas ele sabia que construir não era com ele e assim ele tinha de partir. Ele iria sumir, mas iria voltar. Ele era o pássaro, a novidade, os acabamentos e os detalhes que faziam tudo mais divertido, era o que esperava que ela sempre sonhou encontrar.

Eles se complementavam, um amor de asas e raízes. E, mesmo que o futuro não permitisse a ele voar, enquanto ele tivesse o suporte dela, tudo daria certo. Era o que ele dizia a si mesmo todos os dias, mesmo com o frio na barriga que sentia quando imaginava a possibilidade dela partir; da possibilidade de ela não ser tão teluriana assim. Mas ela não iria ser. Era amor que eles sentiam, e amor precisa de raízes, tanto quanto precisa de asas.