sábado, 4 de abril de 2015

Um Amor de Asas e Raízes (Nefelibato e Teluriano)

-Bem, eu sou uma pessoa nefelibata e você uma teluriana.
-É o quê?
-Eu sou nefelibato, aquele que anda nas nuvens: um sonhador nato. Você é teluriana, que está presa a terra: que não consegue se afastar da realidade. Somos opostos sabe? E juntos nós chegamos a um equilíbrio sensacional.
-Quer dizer então que eu não posso ser carinhosa?
-Claro que pode, mas é que eu fico desnorteado quando recebo seu carinho... Fico feliz demais. – e ele a abraçou com força.
Ele queria explicar a ela tudo que se passava em seu coração. Tudo que que se amontoava em sua mente, mas era complexo demais. Por isso ele perdia tanto tempo colocando as epifanias que tomavam o peito, a cabeça e alma em palavras tortas e torpes que preenchiam seu caderno de anotações. Eram todas palavras pra ela, sobre ela.

Tinha escrito, recentemente sobre o assunto. Sobre os Nefelibatos e os Telurianos; sobre os alados e os enraizados. Ele já havia sonhado tudo sobre eles. Seriam um amor digno de uma obra-prima. Ele que sempre sonhou em ser protagonista de seu próprio romance, havia encontrado seu par ideal. Por isso todo dia ele se desdobrava em várias formas diferentes de demonstrar pra ela o quanto aquele amor deles era sensacional.

Lá no fundo ele tinha medo do futuro e queria aproveitar apenas o agora. Uma vez, seu pai lhe contou sobre seu primeiro amor, e em como esse sentimento atemporal, infelizmente não obedece as leis da física. Ele tinha de aproveitar a oportunidade que a vida lhe deu, e era isso que ele estava fazendo agora. Antes que a rotina pudesse conturbar aquilo que eles tinham, ele tinha de plantar nela a semente certa para germinar em algo forte o bastante para suportar qualquer problema que surgisse no futuro. Uma semente forte o suficiente para impedi-lo, inclusive, de voar para longe quando os problemas aparecessem. E ela era a pessoa certa pra isso, por ser teluriana. Ele, nefelibato, procurara por toda sua vida o coração certo para plantar aquela semente, e era nela. Naquele sorriso extraordinário e naquela pessoa tão certa de tudo que ele iria apostar todas suas fichas como nunca fizera antes na vida.

Na concepção dele, existem dois tipos de pessoas: as que criam asas e sentem necessidade de ir e àquelas que criam raízes e não conseguem abrir mão de ficar. Ele era o primeiro tipo e ela o segundo, mas ele não gostou do conceito original. Alados e enraizados eram palavras simples demais para descrever o que eles eram, por isso ele criou uma neologia pra eles.

Ela, teluriana e enraizada, era firme, pronta pra aguentar todas as intempéries que a vida apresentasse. Não que, às vezes, a vontade de ir não lhe surgisse, mas ele sabia, de alguma forma sabia, que ela nunca iria partir. Ela iria ficar, iria acreditar, iria esperar. Ela era o ninho, a casa, o suporte. Tudo que ele sempre sonhou em achar.

Ele, nefelibato e alado, era solto, pronto pra buscar novas fontes de alegria e se modificar no que tivesse de ser. Não que, às vezes, a vontade de ficar não lhe surgisse, mas ele sabia que construir não era com ele e assim ele tinha de partir. Ele iria sumir, mas iria voltar. Ele era o pássaro, a novidade, os acabamentos e os detalhes que faziam tudo mais divertido, era o que esperava que ela sempre sonhou encontrar.

Eles se complementavam, um amor de asas e raízes. E, mesmo que o futuro não permitisse a ele voar, enquanto ele tivesse o suporte dela, tudo daria certo. Era o que ele dizia a si mesmo todos os dias, mesmo com o frio na barriga que sentia quando imaginava a possibilidade dela partir; da possibilidade de ela não ser tão teluriana assim. Mas ela não iria ser. Era amor que eles sentiam, e amor precisa de raízes, tanto quanto precisa de asas.

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