domingo, 31 de julho de 2016

Continua

Vivianos um clima bom, meio ameno, mas não era pleno. Os sorrisos existiam e surgiam faceiros, contudo, nem todos eram verdadeiros. A gente se bastava, só que não transbordava. Seguíamos uma linha contínua, até eu questionar os motivos de não existir tanto calor nas nossas juras de amor. Bastou um trinque, para tudo de rachar, não importa a minha vontade de remendar. Ela via a verdade e foi honesta quando me disse:

-Você não me brilha mais.
-É? - eu ri daquilo - E como posso voltar a lhe iluminar?
-Eu acho que não podemos voltar no tempo e ter outra chance.

Tantos lugares, tantos caminhos e eu acabei conhecendo-a numa encruzilhada. Podia ter tomado qualquer rumo, mas preferi seguir àquele que ela jurou ser a melhor estrada. Eu sempre soube que apesar de tantos, não havia nenhum me levasse a algum canto. E agora, estranhamente como antes, também não há nenhum que me leve até onde eu estava quando ela chegou; como em outrora, ainda não há mais lugar que eu pertença. Foi tolice torcer que um lar podia surgir a partir de uma falsa crença. Nosso jornada conjunta foi aprazível e chego a ter arrependimentos, todavia, será que não perdemos esse tempo? Todas as faces que conhecemos enquanto limitamo-nos mutuamente já se desvaneceram e a vida continua sem trazer de volta essas oportunidades passadas.

Passei pela mesma esquina que piso todo dia. Estranho como não tinha notado que o poste que lhe iluminava não está mais ali. Alguém me disse, uma vez, que a luz causa sofrimento. Eu não tinha entendido, até passar por essa esquina no escuro. É a falta da luz que incomoda, agora compreendo. Quantos, tantos, detalhes deixei de notar? É com um riso de surpresa que percebo que tenho reerguer meu olhar.
Ergo minha mochila de sonhos, até o momento, esquecidos no ostracismo e volto encaro o céu intrigado. As estrelas parecem me sorrir. Elas nunca deixaram de existir. Sim eu ainda estou vivo, num mundo cheio do desconhecido. Não sei o que me espera, não há nada pra esperar, só sei que há sim motivos pra sonhar. Que sorte a minha que a vida continua.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Vez

Para outra noite de esquecer,
Perdido pelo neon e fumaça,
Entre tragos de aguardente,
Em meio a goles de cigarro,
Ainda espero por você.

Num jogo de sombras e insensatez,
Crucifico minha consciência,
O líbido tem sua mágica,
E você sumiu de vez.

Para cada dia que era de viver,
Seguia sorrisos à graça,
Hipnotizado pelo olhar ardente,
Apaixonado por cada esbarro,
Tudo que vinha de você.

De repente a tristeza se fez,
Estávamos juntos mais por carência,
Tornamos nossa relação apática,
E foi natural acabarmos de vez.

Eu fiz tudo que eu quis,
Deixei meios justificarem fins,
Em alguns momentos, por um triz,
Por alguns sentimentos, fui feliz,
Mas no geral, tive pena de mim.

É uma jornada bem complicada,
Mas é que todas minhas estradas,
Ainda parecem levar até você,
E isso independe do meu querer.

domingo, 17 de julho de 2016

Causa (Aries)

Aquele ar tão seguro de si; cada palavra dela causa um desafio em mim. Talvez tenham sido minhas declarações feitas pra intrigar, já que, rapidamente, percebi que ela não é de fugir, ela é de encarar; ela é de briga, não liga se toda bossa nova é usada, porque não importa como é chamada, o que lhe interessa é que seja definido, ou seja, que ela não tenha de esperar.
Esperança, pra ela, é algo pra se queimar e há um fogo nela pronto pra incendiar. Cada sorriso provocante, cada olhar significante. Ela sabe o que quer, como tem de ser e como o conseguirá.

-Você não cansa de estar errado?
-É errando que se aprende.
-Acho isso perda de tempo.
-Não me sinto perdido.
-Mas eu sinto.

Com uma certeza sem pestanejar, ela se aproximou só pra provocar, só pra me ver reagir aos seus lábios a se aproximar. Mesmo que eu quisesse ter resistido, tenho minhas dúvidas se teria conseguido. As chamas que ela acendeu em mim me causaram arrepios. Num instante eu era são, noutro aturdido, lábios vermelhos, encarando seu olhar de diversão.

Me diverte o quanto ela é impulsiva, porque sabe que a vida foi feita pra ser vivida, antes que o momento passe. Pois se todo carnaval tem seu fim, isso não quer dizer que ela vai deixar de ser feliz, afinal ela ainda é dona do seu nariz. É uma força da natureza que não pode ser domada. Mas isso não quer dizer que não sabe guardar cada memória inédita.

Ainda estou me acostumando com seu jeito imediato de ser, contudo já aprendi que, por ela ser de Áries, preciso inovar a cada experiência nossa. Porque com ela, não tem causa perdida, ela é a única causa a ser vencida, a única e melhor sentença que a mim, por sorte, foi estabelecida.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Incipiente

Fora do sol, buscando uma sombra qualquer, buscando apenas um ponto pra tragar mais um dos cigarros amassados que compramos na noite anterior, tentando não pensar no quer que a gente tinha que pode ser de um tudo, menos amor. Assim que  o coloco na boca, lembro que eu não fumo, ou não fumava quando estou sóbrio, então talvez ainda esteja meio bêbado; esse, provavelmente, é o motivo pelo qual as pessoas olham pra mim com um olhar inquisidor, por isso e por eu ter esse sorriso idiota no rosto que só existe graças ao que você cativou por aqui.

Gosto do embalo que seu encostar no meu peito cria. Você não deve notar, mas ali onde você encontra ninho; ali onde cada parte sua que toca minha pele, me faz ter certeza que todas minhas células são capazes de transbordar carinho, bem nesses momentos percebo esse sentimento incipiente tão perigoso, que surge numa palpitação cardíaca acelerada, na palma da minha mão suada. Poderia me estender em tantos detalhes, desde sua personalidade, pela sua sinceridade, porém não nenhuma dessas surpresas extraordinárias isso que me atraiu, não à primeira vista ou palavras trocadas. Foi seu sexy appeal. Sim, você é tão sensual e eu estava bem naquela primeira, como ontem a noite: cervejas e risadas, um papo bom, a gente sendo o que sempre quis, sem esperar, sem planejar, apenas falando o que a língua diz. A noite foi boa sim, mas por que é que elas sempre têm de ter fim?
Agora um pouco mais sóbrio, percebo que essa sensação boa que existe entre a gente é apenas o sabor incipiente do desconhecido, que estamos apenas comprando o que está sendo vendido. É natural usar máscaras, seria estranho se não usássemos e, mesmo sabendo de tudo isso, ainda desejo descobrir o que está por vir. Gosto do suspense, do inédito, gosto ainda mais de poder lhe descobrir.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Camadas (Taurus)

Nada de desculpas, ela não costuma voltar atrás, mas quando o faz, é de coração. Ela tem esse ar sereno que impede de pensar nela como uma vilã, já que transbordava uma confiança inabalável, por crer, profundamente, que há sempre o melhor nas pessoas.

Além do carinho gratuito e do altruísmo exacerbado, ela é de se esforçar em acabar com aquilo que sente estar errado. Seu esforço contínuo para que o mundo se torne melhor lhe faz se arrodear de pessoas boas, porém, ela faz questão de delimitar quem pode, ou não, ficar.

-Você vai me esquecer.
-Vou?
-Sim, já conheci tipos como você.
-Eu acredito que não... Por que não fazemos o seguinte: se eu sumir, então eu não mereço esse sorrir.
-Que sorriso?
-Esse que você está tentando conter e que não paro de querer conhecer melhor.
-Você é bom com as palavras...
-Assim como você é boa com o olhar.
Por mais que eu insistisse em lhe roubar, ela sabia o que queria e até onde iria. Alguns chamam isso de teimosia, naquele primeiro momento gostei de pensar que era uma boa ousadia. Ela não admite, mas gosta de colocar camadas protetoras em tudo, como se ela pudesse organizar, de forma ótima, o conteúdo do seu mundo.

Seu sol em Touro lhe faz ter tantas camadas ainda por mostrar. É que ela guarda segredos pra cada situação que vier a vivenciar. Dentro dela, ainda existe uma infinidade que, aos poucos, está a me apresentar. Foi mais que sorte, então, eu ter decidido ficar.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Apneia (Gemini)

Não há o que perdoar, se ela vai longe demais, é que não há o que entender, as trocas de opinião que faz, não é por mal não, é apenas pelas tantas tentativas de fazer todos ao seu redor mais felizes e, se derem errado, devem ser desconsiderados, afinal, são simples deslizes. Ela não precisa de falsos afagos, nem de Deus, nem do Diabo, menos ainda de dó; ela erra e acerta sim, mas pelo menos tenta resolver o nó, e vai seguir assim, contanto que não fique só, ela tem como se fazer melhor.

Perto dela, senti uma apneia tomar conta de mim. É que me faltava ar só de ficar ao lado de uma pessoa tão incrível assim. Senti-me desconstruído com cada questão levantada, com cada opinião refutada, principalmente pelo semblante dela que parecia pronta pra acatar as palavras que melhor fossem justificadas. Seu olhar tão ligado, ávido por aprender, me fizeram querer compreender melhor como alguém pode ter tão poucas amarras.
Ela entende que pode até soar dissimulada, mas é melhor que falem dela de forma descabida, do que viver a vida como coadjuvante; do que passar por esse bom trajeto que é a vida de uma forma desapercebida. Ela não tem medo de errar, porque veio ao mundo para aprender, comunicar e melhorar. Pode até soar com algum orgulho louco, porém é apenas a certeza que são poucos os que tem coragem de arriscar deixar claro aquilo que acreditam.

Não acreditei na sorte que tive, quando ela se interessou pelo meu jeito simples de não justificar. Segundo ela, esse meu jeito tão diferente quebra toda a monotonia que ela tem aversão de presenciar. Se o mundo não pára de girar, porque as pessoas que detém uma só rotina, insistem em se contentar? São tantas questões por responder e indagar que, às vezes, não dá tempo nem de respirar. É que ela é toda geminiana e não cansa do meu fôlego roubar, toda vez que um sorriso qualquer decide me dar. E eu fico assim, vivendo uma apneia boa que não dá pra explicar.