terça-feira, 7 de abril de 2009

Terra de Sangue (Zumbi)

Escutei um conto dessa nação,
Que aconteceu em sertão,
Que se repetiu no sertão,
E sempre teve o mesmo fim,
Todos cheios de destruição.

Essa é a história de um mulato,
Meio branco meio marrom,
Que apesar de um homem bom,
Viveu como se fosse um dos escravos,
Trabalhando no açucar mascavo,
Sem ter direitos, de fato.

Pobre coitado,
Nunca teve nenhum nome,
Nunca conheceu quem lhe deu vida,
Sobreviveu a uma infância,
Que na verdade era um subvida,
Sempre batalhando contra a fome.

Rodeado de desertos,
Sem saber o que era certo,
O calor do sertão,
Somado a loucura no coração,
Fez ele se abrigar com a morte,
E lançar-se a própria sorte.

Matou seu senhor,
Seu mal-feitor,
Fugiu pelas selvas,
Se feriu no caminho,
Mas nunca esteve sozinho,
Sua loucura o acompanhou.

Construiu sua casa,
Construiu sua familia,
Guiou sua vila,
E viu a felicidade o fitar.

Era tudo brincadeira do destino,
Os avarentos barões,
Queriam seus animais de volta,
Os animais que para o mulato,
Eram seus irmãos, pais e mães.

E ele pegou em armas novamente,
Experimentou do sangue novamente,
Teve que rachar sua alma,
Para poder ver a felicidade,
Continuar a paira na sua frente.

As balas chegaram,
As baixas o abalaram,
O monstro em seu peito rugiu,
Ele sentia sede de vingança,
Queria a justiça em sua mão,
E assassiná-la com seu facão.

Agora havia uma chuva de balas,
Pedras contra uma marcha,
E o grande assassino,
Na verdade era o calor,
Dessa terra de terror.

Já não importava mais sua religião,
Já não importava sua vida,
Nem sua vila contruída no sertão,
Só queria sangue humano.

Lá vinha mais um batalhão,
Era pedra e pau,
Contra bala e espada,
Era o tudo contra o nada.

Crianças contra soldados,
Mulheres sendo assassinadas,
Maridos sendo fatiados,
E o sol pairando no ar.

Castigando quem quisesse lutar,
Quem tentasse sobreviver,
Ao inferno dos homens.

Foi aí que o mulato louco,
Ganhou finalmente um nome,
Ele já estava morto,
Mas continuava a lutar,
Ele só sabia matar.
Chamaram-no Zumbi.

Os comensais da morte,
Pairavam por todos a paisagens,
Carniceiros comiam os corpos,
Enquanto alguns ainda lutavam.

Nasceu assim um rubro oceano,
Se espalhou pelo solo tão seco,
E então ele pereceu,
Nas mãos dos cães do governo.

A chuva de São Pedro,
Finalmente veio a cair,
Mas já era tarde demais,
Não tinha mais nenhum devoto pra agradecer.

Quando amanheceu naquele inferno,
A poeira da terra soprou vermelha,
Ali jazia corpos humanos,
Que nunca foram considerados humanos.

Tudo que ele construiu, foi queimado,
Tudo que ele viu, foi apagado,
Sua história foi mudada,
Ele era o monstro que quis distruir,
A estabilidade da civilização.

Pobres coitados, cachorros civilizados,
Não sabiam que a história desse mulato,
Já existia em suas memórias,
Antes mesmo de existir.

Era uma repetição de fatos,
Que se repetem na história,
Dessa infrutifera terra,
Sedenta por guerra.

Bruno Tôp

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