segunda-feira, 4 de abril de 2016

Detalhes

Aquele sorriso a levou pra longe, fazendo o tempo passar, como há muito não se fazia disparar. Surgiu, repentinamente, numa tarde qualquer. Ela lembrava sim, com detalhes demais para se fazer esquecer que, apesar de coadjuvante de uma situação em que ambos só podiam observar, se fizeram protagonistas de detalhes em particular.

Partilharam risos divertidos e na hora de se despedir, ela sentiu que gostaria de ficar mais. Chegou em casa sem lembrar como era ter paz. Havia tanta saudade em seu peito, de sentimentos que vivia inibindo, vivendo num mundo otimista que tinha de alimentar para não se amargurar.

Amarga foi a sensação que ficou depois da ausência seguida do primeiro roubar. Os quarenta centímetros que ele enumerara como quatro mil milhas, pareceram aumentar, até que, sem querer, sem nem planejar, descobriu de um passado que não poderia ignorar.
Optou por se fazer ignorante às máscaras que ele sobrepujava no coração. Tinha tantas verdades que não queria encarar, sobre sua vida própria, que não seria problema aceitar mais uma mentira. Deixou o tempo passar, tratou de aproveitar as verdades, que eram tudo que parecia lhe importar.

-Assopre as velas - ele lhe disse rindo, entre beijos no pescoço.
-Que velas?
-Do seu bolo de aniversário.
-Mas hoje não é...
-Dos que já passaram - o sorriso audacioso dele a faziam indagar quanta astúcia ele podia carregar - você já viveu muito para continuar tão tímida.

A primeira noite deles foi muito mais do que linda. Tanto que agora, enxergando a chuva que não parava de lhe fustigar, três meses depois da última palavra lhe falar, àquelas memórias, seus detalhes, e as velas que ele lhe sugerira, ainda não conseguia apagar.

Apagaria, se pudesse, o tanto dele que permanecia em si: o olhar selvagem, o tempo e as viagens, cada lembrança, cada paisagem. Todos os momentos que falaram sem parar, principalmente o que o silêncio de ambos nunca chegou a lhes incomodar.

Apesar de cômodo, o agora era acinzentado, por saber que mesmo eles pertencendo apenas ao passado, notar, diariamente, que ainda mantinha segredos escondidos, já que em vários diálogos teve seus lábios mordidos, por ninguém menos que ela mesma, por medo de revelar seus próprios detalhes a todos desconhecidos, seus sonhos loucos demais para serem proferidos. Por mais que lutasse contra aquele defeito, não conseguira mudar o fato que tinha uma voz fraca pros pensamentos que transbordavam sua mente.

Mentia ainda, mesmo tendo passado tanto tempo daquelas memórias lindas, para tentar afastar cada detalhe dele. Para inibir de si a sensação que nunca sequer chegara a ser um amor pra ele. Fora apenas companhia embaixo dos cobertores, preenchendo espaços vazios que o coração, declaradamente, deformado dele tinha. O calor que ele precisara em tantas situações desfavoráveis.

-Por favor - entoou para si e para a chuva - apague essas velas e os detalhes dentro de mim.

Um comentário:

  1. Obrigada por colocar em palavras os seus sentimentos! Umas das melhores leituras que já fiz esse ano aconteceu agora.

    ResponderExcluir