domingo, 21 de fevereiro de 2016

Sentidos

Eu a conheci fora de mim. Era tão eu quanto não era, e quando dei por mim, já estava ali, de frente a ela, encarando, desejando.

Desejei seguir o som que ecoava, fechei os olhos e também todos meus outros sentidos, e naquele som me deixei flutuar. O controle quase mínimo que tinha do meu corpo se foi de vez, embarquei numa viagem que poucas vezes na vida experimentei. Percebi ali, que tudo o que eu tinha, daria a ela, só pra poder me manter naquele estado de espirito. Só pra continuar me perdendo.

Perdido, recuperei o mínimo controle que tinha de mim. Sabia que o momento era inapropriado, mas eu nunca esperei momentos certos pra fazer o errado. Fui até a frente do palco e, pra minha grata surpresa, ela parecia partilhar do mesmo transe que me impusera sem nem sequer me notar. Meus olhos que falhavam até então, voltaram ao funcionamento pleno e, como se impregnado por algum tipo de veneno, me vi hipnotizado pelas curvas que a dança dela, tímida, quase singela, me impuseram. Naquele instante eu era só visão, e meus olhos só captavam uma imagem: a dela, transpirando liberdade.

Decidi aí, me libertar através da voz que surgiu antes que eu pudesse controlar:

-Eu caso com você! - gritei sem nem notar o quão louco poderia soar. O quão perdido eu parecia estar. E a reação dela foi pro meu deleitar. Um sorriso, de educação, um olhar, confuso, com a minha nada sóbria entonação.
Entoei pra mim mesmo, que deveria ficar mais a esmo. Deixei meu paladar tomar conta. Liberei meus outros sentidos, pra com mais éter me associar. Foi aí que trocamos palavras poucas, provavelmente com vozes roucas. O riso dela era de diversão, o meu, quase tenho certeza, de excitação. Um nome, era tudo que precisava naquele tempo.

O tempo passou e trocamos várias palavras, ela sempre evasiva, porque, talvez, esse seja seu maior charme, tão puro, quase lasciva. E, sem perceber, a gente se reencontrava, sempre com sorrisos, repetindo o primeiro encontro: eu, na frente do seu palco, suspirando vontade, ela rindo, hesitando à minha sinceridade. Mais o que mais me agrada, são os encontros que temos após seu som parar, um abraço forte, e nos meus braços, consigo sentir um toque capaz de arrepiar. Como se meu tato fosse tudo que eu precisasse pra falar, que um pouco dela ainda preciso provar.

Prova essa, que, entre tantos desencontros encontrados, vou enxugando um pouco do gelo que ela constantemente impõe pra tantos outros que tentam alcançá-la. Fico apenas na esperança de ter mais sorte, vai que meu santo é forte e ela, um dia desses qualquer, se pega lembrando do cheiro que lhe dou, até porque adoro o aroma que ela emana, gosto principalmente do jeito dela de ser meio humana, um pouco profana. Gosto, excepcionalmente, de como ela sorri, de como ela faz eu me divertir, como ela, de uma forma única, foi capaz de conquistar todos meus sentidos e, ainda assim, eu lhe ser um fruto proibido.

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