terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Sabor

A sensação lasciva começava no olhar, quando ao vislumbrar a silhueta, seus lábios já conseguiam o sabor dela parecer provar. Era uma fração de segundos, antes dos olhos fechar, antes dos lábios roubar, antes da luxúria se liberar. A porta raramente era fechada antes de ele tomá-la pra si. A nuca se eriçava à sua respiração, um gemido no seu ouvido pra lhe aumentar o tesão, com uma perna ele encostava a porta, com uma manobra um pouco torta, ela trancava a entrada para ficarem em paz.

Nenhuma palavra era trocada, eles se equilibravam, atracados, tentando desviar dos objetos nos cômodos que não eram o quarto. Não havia exatamente um ritual, mas, basicamente, ele a erguia para si com uma facilidade que ainda a surpreendia. Talvez fosse a excitação, muito provavelmente era a falta de qualquer hesitação, é só que ele conseguia facilmente içá-la do chão, e num movimento quase ensaiado, o corpo dela, no dele era encaixado.

Arfar. Ela gostava de sentir deixar levar. Respiração acelerada, vontade transbordada. A camisa dele poderia ser rasgada, contanto que ela pudesse, o mais breve possível, saborear cada pedaço que conseguisse abocanhar da pele dele.

Era o barulho de protesto das molas da cama, que os fazia interromper, momentaneamente, toda a vontade que já podia ser contida. Eles se encaravam, gargalhavam, e em algumas vezes até comentavam, mas rapidamente, o encarar de olhar, os lábios longe, sem se roçar, fazia-os esquecer o que quer que fossem conversar.

A partir daí era cada um por si, e todos por uma resposta só: um prazer que fazia o corpo dos dois se encaixar no melhor nó. Beijos pelas peles suadas, línguas misturadas na tentativa de aplacar uma vontade que não podia ser mensurada. As últimas peças voavam pra longe, quando ele fazia questão de imobilizá-la.

Era o sabor dela que o deixava louco. E ele sabia que deveria aproveitar aos poucos. Deixava seus lábios começarem pelo pescoço, vira e mexe acabam nas línguas dela. Usava os dentes para morder cada detalhe que pudesse eriçar. Usava a barba pra arrepiar. Ela suspirava, arfava, gemia. Ele não podia conter sua euforia. Depois de permanecer por um bom tempo no busto, provocava lentamente em todo o caminho que levava até o alvo. Quando finalmente chegava, sua língua estava ensopada. Ele não sabia dizer se vinha dele ou dela, não importava, o sabor dali era algo que sua mente acabava. Enquanto estava ali, não havia outro pensamento, havia um animal, pronto pra ser acionado, assim que fosse chamado. E ela chamava. Logo depois de se contorcer de prazer, logo depois do corpo todo se estremecer ao toque dele. Quando finalmente entrava, a luxúria em muito já havia sido superada.
Posições diferentes, toques fortes, sutis, desalinhados, independentes. Eles iam dançando, encaixando, sorrindo, gozando. O prazer em si não era o resultado e sim toda a trajetória e quando paravam, finalmente paravam, exaustos, exauridos, se encaravam, gargalhavam.

Ele lambia o lábio, ela ria sem jeito e olhava pro teto. Um carinho com ternura, um aviso que aquele prazer era apenas uma parcela de toda a usura, que ainda teriam de pagar em outras noites futuras. Que bom então, afinal, o sabor dela era descomunal. Quem bom então, até porque, eles se entendiam muito bem obrigado.

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