terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Nem Pelo Que Foi, Nem Pelo que Poderá Ser


-Pena e arrependimento são os dois piores sentimentos que alguém pode ter - ela meneiou com a cabeça após ele terminar uma triste história sobre o passado - não costumo ter muito... Ao contrário da pena, gosto de cultivar admiração, como por ti, agora... E muita por sinal - e sorriu.

Ele ficou observando-a, tentando se concentrar em não perder o foco da conversa. Era díficil não resistir a ficar apenas filmando-a com os olhos... Ela era diferente, totalmente atipica.

-Que foi? - ela quebrou o silencio após alguns segundos em que os olhos amendoados dele a fitavam entretidos.

-Cada vez mais tenho essa vontade de te roubar - ele deu de ombros e parou de olhá-la por uns instantes - não vou mentir... Quem é admirável aqui é você.

Ela deu aquele sorriso sem graça e entortou os ombros de uma forma tão desengonçada que chegava a ser gracioso.

-Depois de me contares tudo isso, tu me chamar de admirável chega a ser piada.

-Veja bem... É de praxe o que sinto sabe? - mas ela não sabia o que ele falava e por isso ele continuou - você conhece uma pessoa que lhe atrai num local qualquer; você tem vontade de ir beijar ou, no mínimo, cortejar, mas não o faz de vez, porque sabe que as coisas não funcionam tão simples e diretas assim... A depender da situação você pode ter a sorte de começar a conhecer ela... E aí rapidamente se apaixona pelo jeito de ser - ele pausa pra pensar no que falou - apaixonar no sentido de se pegar admirando certas características únicas...

-Por exemplo? - ele interrompe divertida.
-Você é ruiva, fala francês, torce e vai aos jogos do meu time, é mulher feita, escreve bem e tem sardas - ele sente ela desviar os olhos surpresa com o enunciar de virtudes e decidi prosseguir mesmo querendo ficar admirando aquele sorriso cabreiro - E ai, como posso explicar isso... Hmm, sei lá, surte um sensação do tipo que podemos chamar de coincidências e gostos parecidos... Pronto, daí surge minha vontade de roubar... Sorrisos e afins.

Ela continuou olhando para frente, para o céu. Ele não sabia se o que tinha dito fora o certo a ser dito. Sempre tinha disso, falava demais e tinha aquela tênue sensação que falava o suficiente para lhe auto prejudicar. Mas isso também não importava muito pra ele. Não, não... Ele odiava joguinhos da conquista. Se havia uma forma que ele gostava de jogar, era de jogar limpo. Sempre sincero demais... Tanto que chegava a ser incoveniente em certas situações, e era essa impressão que ele tinha naquele exato momento.

-Por que eu digo isso? - ele enunciou as palavras que talvez estivessem rodeando a mente dela - Porque... Sei la, eu nunca fui de omitir basicamente nada, eu acho, ou talvez porque eu seja o típico Canceriano idiota - e deu de ombros virando o rosto com um pouco de vergonha.

-Tas tentando me avisar que vai começar a dar em cima de mim?

-Acho que já comecei né? Sem nem perceber - ele se virou e pode encarar o cabelo rubro dela que lhe chamava tanta atenção... E as sardas que cobriam seu ombro que lhe davam tanta vontade de alisar, voltou a olhar nos olhos dela, porque era o mais sensato a ser feito - Mas não muda muita coisa não, Flor. Pra mim dar em cima é reflexo e não ação, é vontade que bate e flui... É como o vento... Tem hora que tem, tem hora que não, mas tá sempre lá, mesmo que a gente não possa ver.

Ela ficou calada, como sempre ficava em algumas horas, como se sumisse...

-Possibilidades são possibilidades, e por isso elas não devem mudar o que já existe - ele falou fazendo uma careta - e no 'nosso' caso - fez as aspas com as mãos para interpretar o que falava - é eu te querer tão bem pelo que já é; nem pelo que foi, nem pelo que poderá ser.

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