quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Agridoce


Dum azedume revestido por doçura; é exatamente essa sensação que tenho sempre que você me demonstra carinho... É como se você quisesse se deixar levar, mas houvesse uns vários freios que lhe impedissem... Sei que a gente fez vários acordos (dos da sinceridade e do que só importa pra gente é o que virá daqui em diante), mas às vezes, só às vezes, eu queria poder lhe ter sem freios. Não, esse não sou eu retrucando, é apenas mais um dos inúmeros comentários que virei a fazer sobre cada um dos seus trejeitos que me fazem apaixonar-me mais e mais por você.

Primeiro vem a reprimenda, as caretas e o olhar distante; mas aí aos poucos você vai se entregando, como gatuna que é... Ronronando sorrisos, sussurrando suspiros... Acho que às vezes você esquece que também sou ladrão e como aquele velho e sábio ditado diz "ladrão que rouba ladrão, tem cem anos de perdão"; ora, não é dificil perceber que se eu, por ventura, conseguir roubar um naco desse seu coração tão pungente, serei perdoado por já ter tido meu coração exposto tão facilmente furtado.
                       
Você tem essa mania sagaz de me conquistar ao roubar, vai ver eu tenho dentro de mim a tal Síndrome de Estocolmo e não sabia; vai ver eu nunca tinha encontrado uma felina contumaz o bastante para me roubar os sonhos e me fazer acreditar que fui eu que lhe dei, quando, na verdade, minha vontade nunca teve vez. Não é difícil notar em quais momentos isso acontece; estão situados num abraço apertados, nas mordidas aleatórias, no vinho enamorado, nos risos abarrotados, nas cervejas divididas, nas contas discutidas... A gente tem uma sincronia de dessincronizar o espaço e o tempo, já percebeu? Como uma luz única, mas sobre isso prefiro falar depois.

Entre os meus regougos apaixonados me perco saboreando cada detalhe desses seus inúmeros sorrisos que me deixam frouxo só por existirem; eu poderia descrever cada um deles, mas acho que isso iria lhe afugentar de mim não é? Por isso me contento em saborear esse seu carinho tão gostoso, dum sabor agridoce; acre e doce; do jeito certo para me viciar. E só ai você perceba que agora, só agora, eu nunca vou deixá-la ir.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Bonzinho Danado


Começo a achar,
Que quero dançar,
Apenas com esse par,
Sem variar a dança.

Já passou da hora,
De me deixar colorir,
Por um sorriso assim,
Bonzinho danado.

Acho que me cansei,
De toda essa paz,
De ser sozinho,
E, se niguém já me faz,
Dormir mais tarde,
Melhor é voltar,
Ao ritmo de arriscar.

Já cansei de imaginar,
Um alguém pra'paixonar,
Foi só aparecer,
Preu me perder,
Na imensidão dum acastanhado,
Bonzinho danado.

O que tiver de ser,
Num ritmo qualquer,
Que me balança,
Sem esperar,
Nem esperança,
Pelo que vem.

O que quero agora,
É apenas o céu azul,
Com meu querobem,
Ronronando pra mim,
Como é bonzinho danado,
Eu ter lhe roubado.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Até Você Aparecer

Esse é meu corpo, torto, desengonçado que não sabe dançar. Tão incompleto, tão desastrado, que sempre achei que ninguém conseguiria guiar. Sempre me pareceu que cada dança que eu entrava, esperança se minguava, até você aparecer e transformar todo esse desengonçar em sincronia.

Esse é meu sorriso, faceiro, falso e gostoso. Um sorriso que nasceu assim galante e sagaz; que rouba mais do que faz... Que gera desconfiança e ciumes, ele sempre pareceu tão cinza, até você aparecer e transformar toda essa sagacidade em simplicidade.

Esse é meu olhar caramelado, astuto e austero. Tão observador que chega a ser intimidador, sempre perdido atrás de algo que roubasse toda sua atenção por mais que uma onzena, sempre ávido por um filme que lhe prendesse e o hipnotizasse. Ele estava assim desfocado, até você aparecer e transformar toda essa observação cinza num colorido inefável.
Essa é minha mente, que mente e foge de si mesma. Que dá voltas e voltas antes de tentar definir qualquer coisa, um pouco sombria, às vezes mesquinha, mas principalmente perdida. Estava assim sem ter certeza do que definir, até você aparecer e transformar toda essa tempestade numa calmaria.

Esse é meu coração todo coração, que sempre foi exposto por aí, e que sempre fez questão de se esconder daqueles que surgem para machucá-lo. Ele era esguio e não se entregava a ninguém, sempre gostava de roubar sorrisos, amores e suspiros, até você aparecer e transformar toda essa gatunes num apaixonar.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Diletante


O sentimento era eletrico; o sol brilhava mais forte que em dias comuns, as estrelas se alinharam assimetricamente e a lua transbordava àquela aura que guarda pros enamorados... Sabia qual decisão tomar, mas eu tive medo.

Medo que a escuridão aqui dentro não estivesse contida; decidi fugir e tentar arrumar melhor toda essa mania de desorganizar que meu coração tem. E a cada dia novo, consigo enumerar uma volta de lua de noites confusas nas quais me conforto ao saber que não sou o único a temer pelo que o amor pode trazer.

Por algum tempo agora quero ficar um pouco longe, não por muito tempo, apenas o suficiente para que minha decisão pare de transbordar em impulsos incontroláveis; apenas por tempo suficiente para que eu possa domar a mim mesmo. Apenas o suficiente para que os sorrisos seus que ecoam aqui dentro possam tilintar de saudade. Quero voltar ser mais Diletante; de me perder por aí apenas para conhecer um pôr-do-sol novo que virá a brilhar em mim, de admirar um música apenas pelo riso que ela me trouxer nos lábios, de reapaixonar pelo seu olhar que me faz toda uma tempestade.
Sei que parece estranho o que estou dizendo, mas estou falando de amor; algo que nunca entendi e não pretendo compreender completamente nessa minha estadia mortal... A única coisa que ando querendo ultimamente é andar por aí com um sorriso no rosto e sem planos para o jogo; sem obrigações, alarmes ou alcunhas. Quero apenas levar meu coração pra casa.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Quando Carnaval Vem


Só quero samba-raiz,
Daqueles de sorrir,
Pra me desengoçar.

Ninguém sonhou assim,
Você tão feliz,
Eu todo afim,
Do coração abrir,
E me reapaixonar.

Não é tão complicado,
A questão na sua mente,
Pode se responder,
Com um riso apaixonado.

Pense bem,
Quando Carnaval vem,
Tudo vai pro além.

Deixo de lado,
Tudo além do presente,
Tento me refazer,
Naquilo que tinha sonhado.

Só quero frevo-bom,
Daqueles de embriagar,
Pra me libertar.

Ninguém sonha só,
Lhe ver nesse tom,
Me faz querer um nó,
Pra nos amarrar,
E nunca mais soltar.

Não somos diferentes,
Sua imensidão no olhar,
É a resposta que preciso,
Pra sempre amar,
Todos seus sorrisos.

É, minha flor,
Quando chega o amor,
Só existe uma cor...

Seus olhos verde-mar,
Vem me aquietar,
E tornar verdade,
Aquele velho ditado,
De sonho ser realidade.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Nem Pelo Que Foi, Nem Pelo que Poderá Ser


-Pena e arrependimento são os dois piores sentimentos que alguém pode ter - ela meneiou com a cabeça após ele terminar uma triste história sobre o passado - não costumo ter muito... Ao contrário da pena, gosto de cultivar admiração, como por ti, agora... E muita por sinal - e sorriu.

Ele ficou observando-a, tentando se concentrar em não perder o foco da conversa. Era díficil não resistir a ficar apenas filmando-a com os olhos... Ela era diferente, totalmente atipica.

-Que foi? - ela quebrou o silencio após alguns segundos em que os olhos amendoados dele a fitavam entretidos.

-Cada vez mais tenho essa vontade de te roubar - ele deu de ombros e parou de olhá-la por uns instantes - não vou mentir... Quem é admirável aqui é você.

Ela deu aquele sorriso sem graça e entortou os ombros de uma forma tão desengonçada que chegava a ser gracioso.

-Depois de me contares tudo isso, tu me chamar de admirável chega a ser piada.

-Veja bem... É de praxe o que sinto sabe? - mas ela não sabia o que ele falava e por isso ele continuou - você conhece uma pessoa que lhe atrai num local qualquer; você tem vontade de ir beijar ou, no mínimo, cortejar, mas não o faz de vez, porque sabe que as coisas não funcionam tão simples e diretas assim... A depender da situação você pode ter a sorte de começar a conhecer ela... E aí rapidamente se apaixona pelo jeito de ser - ele pausa pra pensar no que falou - apaixonar no sentido de se pegar admirando certas características únicas...

-Por exemplo? - ele interrompe divertida.
-Você é ruiva, fala francês, torce e vai aos jogos do meu time, é mulher feita, escreve bem e tem sardas - ele sente ela desviar os olhos surpresa com o enunciar de virtudes e decidi prosseguir mesmo querendo ficar admirando aquele sorriso cabreiro - E ai, como posso explicar isso... Hmm, sei lá, surte um sensação do tipo que podemos chamar de coincidências e gostos parecidos... Pronto, daí surge minha vontade de roubar... Sorrisos e afins.

Ela continuou olhando para frente, para o céu. Ele não sabia se o que tinha dito fora o certo a ser dito. Sempre tinha disso, falava demais e tinha aquela tênue sensação que falava o suficiente para lhe auto prejudicar. Mas isso também não importava muito pra ele. Não, não... Ele odiava joguinhos da conquista. Se havia uma forma que ele gostava de jogar, era de jogar limpo. Sempre sincero demais... Tanto que chegava a ser incoveniente em certas situações, e era essa impressão que ele tinha naquele exato momento.

-Por que eu digo isso? - ele enunciou as palavras que talvez estivessem rodeando a mente dela - Porque... Sei la, eu nunca fui de omitir basicamente nada, eu acho, ou talvez porque eu seja o típico Canceriano idiota - e deu de ombros virando o rosto com um pouco de vergonha.

-Tas tentando me avisar que vai começar a dar em cima de mim?

-Acho que já comecei né? Sem nem perceber - ele se virou e pode encarar o cabelo rubro dela que lhe chamava tanta atenção... E as sardas que cobriam seu ombro que lhe davam tanta vontade de alisar, voltou a olhar nos olhos dela, porque era o mais sensato a ser feito - Mas não muda muita coisa não, Flor. Pra mim dar em cima é reflexo e não ação, é vontade que bate e flui... É como o vento... Tem hora que tem, tem hora que não, mas tá sempre lá, mesmo que a gente não possa ver.

Ela ficou calada, como sempre ficava em algumas horas, como se sumisse...

-Possibilidades são possibilidades, e por isso elas não devem mudar o que já existe - ele falou fazendo uma careta - e no 'nosso' caso - fez as aspas com as mãos para interpretar o que falava - é eu te querer tão bem pelo que já é; nem pelo que foi, nem pelo que poderá ser.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Amor Inventado


Consegue sentir?
O vazio no coração?
O sol brilha tanto,
Você nem vai sorrir?

Vem cá Paixão,
Ainda não chegou a hora,
Da gente abrir mão,
Desse nosso chamego.

Sei que tá tudo maluco,
Mas você queria o que?
Tamo em Pernambuco,
E já chegou o Carnaval,
Pra levar todo mal.

Consegue sentir?
O vazio na mente?
A chuva vem em pranto,
Lhe inundar de rir.

Vem cá, não mente,
Nem vai embora,
Tudo vai ser diferente,
Nesse nosso apego.

Sabe que é bem-vinda,
Em todos meus beijos,
E nas ladeiras de Olinda,
Fevereiro sempre assim,
Alegria sem fim.

E se não bastar,
Pode me roubar,
Sou todo carinho,
Só pra você,
Meu benzinho.

Pode ser amor inventado,
Nosso frevo bem assim,
Eu nos seus braços,
Você em mim num laço,
Até Fevereiro ter passado.