quinta-feira, 14 de abril de 2011

Enferrujar-se-ia

-Você é responsável pelo que cativa. – foram minhas palavras mais covardes, ao seu pé do ouvido – eu me apaixonei por você. Pelo seu jeito de sorrir, pelo seu jeito de contar uma história, e pelos trejeitos efusivos que você demonstra pra qualquer um. Mais, acima de tudo, me apaixonei pelo seu abraço, que me traz sensações oscilantes entre o que é certo e o que é errado; entre a possibilidade e o arrependimento...
-Eu... – você tentou balbuciar algo em resposta, mas foi calada pelo encontro dos nossos olhares.
-Só quero um beijo para saber o que estou perdendo. – e sem esperar por resposta, meus lábios lhe roubaram qualquer reação.

Eu sabia que ia ser assim. Desde o momento que te quis. É egoísmo demais querer ter para si uma pessoa que ama? Acho que sim, quando seu coração já não lhe pertence mais.
Provavelmente, acontecerá conosco o que acontece com todos os amores. O tempo passa, a onda quebra contra o cais, a maré vira, a maresia voa. Tudo enferruja.

-Chega... – você suspirou finalmente se livrando do beijo como um alguém que volta a respirar depois de quase se afogar. Entretanto, sua expressão não era de alivio, era de dor. Uma expressão de agonia por ter parado algo que muito provavelmente estava sendo avassalador.
-Eu...
-Não precisa dizer nada – seus olhos fugiam dos meus, assim como seu corpo recuava. Havia muita confusão naquele momento.

Esse jogo de flerte e cantadas que começamos só podia dar nisso. Sem nenhum vencedor, apenas perdedores. Eu nunca ouvi falar de ninguém que jogou com o amor e venceu; acho que essa é minha sina. Tenho de confessar que não sou tão perdedor, pois, pelo menos uma parte do meu coração continuará feliz por não deixar de pertencer a ela.
Talvez essa seja a verdadeira resposta não? Você vai perder independente da estratégia que definir. Não peço desculpas, pois não me arrependo do que fiz. Só lamento por ser um só, e não poder ser tão seu, quanto deveria ser, e o quanto você quis ser minha; por não poder ser para você, nada mais que um amor de possibilidades. Um amor, que não se transformar em algo áureo.

-Tem certeza? – falei tentando reverter palavras que não voltariam mais, que lhe arranharam e rasgaram em locais que eu nunca mais poderia reparar ou curar.
-Tenho. Está tudo bem – não sei se você lembra, mas eu conhecia (e ainda conheço) cada um dos seus sete tipos de sorrir. E aquele que você me exibiu naquele momento era sorriso falso, que não transparece nada além de uma magoa fria.
-Então tudo bem – eu lhe retribui com meu sorriso opaco, aquele que você chamou de uma tristeza cinza em outros tempos, mas que não conseguiu ou não quis reparar nessa última vez. Sabíamos, ambos, que essa despedida não terminará em reticências.

O tempo passou mais uma vez. Só que dessa vez, sem viradas na maré. Apenas a constante maresia corroendo nosso amor. E se foi. Nosso amor enferrujar-se-ia.
Ainda lamento pelo que foi, pelo que não foi e pelo que poderia ser, guardando, acima de tudo essa despedida. Um algo melhor do que as nuances de um amor oxidado; caindo aos pedaços.

Bruno M. Tôp

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