segunda-feira, 7 de junho de 2010

Ninho

“Sem tirar nem por, com carinho, com amor”

Foram essas suas palavras no pé do meu ouvido. Numa voz rouca, vindas de lábios secos e temerosos; sua mão tremia na minha, seus olhos que antes demonstravam tanta certeza estavam com medo... Temerosos de que sua cartada final não fosse capaz de derrubar a barreira que coloquei entre nós. Mais uma tentativa de roubar um beijo, e com um pouco de resistência, eu consigo me manter firme.

-Por que não?

-Porque não é certo.

-E o que seria certo?

Meu silencio de constrangimento lhe rendeu um sorriso de confiança, eu tentava me manter forte, decidida, mas seus olhos amendoados me fascinam demais. Esse sorriso meio torto, de cafajeste me rouba o ar. Você não tem nada de lindo, mas olhando assim para você, desengonçadamente esperto, não posso deixar de pensar que todos as falhas foram feitas milimetricamente de propósito. É o seu charme, afinal, não existe um cafajeste bonito demais, existem cafajestes galantes demais. E você é um deles.

-Você nem sabe o que é certo.

-Sei que isso que você quer, não é.

Outra pausa, em que você passa a língua no canino esquerdo, enquanto dá seu sorriso mais malandro, uma mania sua, eu já reparei. Você chega mais perto e roça seus lábios no meu cangote, arrepiando todo meu ser. Com dificuldade, escondo um sorriso de prazer, sou teimosa demais para abrir mão de mim mesma.

-Se é isso que você quer... Só acho que o certo e o errado não deveriam interferir com o seu querer.

-Prossiga.

-Você me quer, eu consigo ver, nos seus olhos, no seus sorriso. – uma pausa calculada em que você avalia minha reação a suas palavras. Droga, eu odeio quando as maçãs da minha bochecha ficam rosadas, mas não consigo controlá-las, parece que elas fazem isso só para me entregar. – nos seus suspiros, e nos abraços...

-Nada além de carinho.

-Eu sei o que você quer.

-E o que seria?

-Eu.

-Puft.

-E eu te quero.

Perto demais, rápido demais, não consegui reagir. Não, não. Eu não queria isso, mas essa mordida no meus lábios inferiores, esse aroma ácido que vem do seu respirar (...)

-Eu disse que você queria.

-Mas o que fizemos é errado...

-Não, não é. Sabe, se tu queres algo, não deves deixar de fazer se tem uma oportunidade.

-Mas eu tenho um compromisso...

-É, eu sei, é amanhã, eu fui convidado lembra? – e você retira o convite que os padrinhos do meu casamento receberam.

-O que eu faço agora?

-O que seu coração mandar.

-Mas ele sempre fica confuso com você por perto. Sempre é assim, eu repito esse erro. – e lágrimas descem pelo meu rosto. Ótimo, era só o que faltava, agora você vai ter pena de mim. Não, por favor, beijos não, eu estou horrível, chorando assim.

-Salgado – você sussurra sorrindo e me faz soluçar um sorriso – não derrame-as por não saber o que quer, lembra do que me disse quando cometeu o primeiro ‘erro’?

É claro que eu lembro, fazem oito anos, desde que eu me deixei levar nesse furacão que é o seu coração, desde que você me adicionou a sua coleção, vindo me tirar para dançar a cada três onzenas. Eu sei o que disse, não me arrependo, pois eu te amo, mas queria poder ser um pouco diferente.

-Entenda só uma coisa: eu nunca vou deixá-lo ir...

-E vice-versa... - você beija meu nariz com sutileza - deixa eu te dizer uma coisa, sem você, é como se eu não tivesse asas para voar. Preciso de um local para descansá-las, por isso sempre volto...



-Eu sou seu ninho?

-Exatamente, como tinha que ser... E aqui estamos nós. – você aponta para o seu coração e depois para o meu... Mais um abraço com cheiro adocicado, e minhas forças se vão. Me deixo levar, mesmo sabendo que só será por uma noite, que amanhã, você vai sorrir e fingir para os outros que nada aconteceu. Que esse momento nosso, será só nosso. Porque somos assim, um do outro, no coração e na alma, sem mais.

Bruno Tôp

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