domingo, 18 de julho de 2010

Suspiro de Aleluia

Eu soube, de alguma forma que não sei explicar, que havia um acordo secreto pra nós dois, elaborado por uma força que não sei mensurar: entre o quarto e um quinto acorde, de uma balada apaixonadamente piegas, nós nos beijamos pela primeira vez. O amor se projetou em nossos peitos: olhos e sorrisos numa sincronia que jamais sentira antes, tudo parecia bem demais, só que, infelizmente, no mundo real, não é assim que o destino se faz.

Sua convicção era forte e você sempre precisou de provas concretas que eu não conseguia dar. Entre desencontros e cantadas ao pé do ouvido, acabamos repetindo aquilo que deveria ser eterno. Ainda não consigo tirar da memória a imagem de você me encarando sob o luar. O trono que sempre estivera vazio, num coração congelado, oco e deformado, foi usurpado por você, simplesmente assim, incoerente, como amor sempre é no fim.

Acariciando seus cabelos no meu colo, retirando de seus lábios juras de um amor eterno, deixei que meus mais profundos flagelos fossem ocultados; era um milagre, os alaúdes no meu coração sussurravam Aleluia, a felicidade voltara a me tomar o peito. Suas costas cabiam tão bem no meu peito, meu all star velho de guerra combinava perfeitamente com sua sapatilha delicada; o outono estava mais frio que o normal, excelente para me agarrar a você, sentir seu aroma doce se impregnar em mim, enquanto nos esquentávamos conversando sobre coisa qualquer.

Todas minhas promessas de me enclausurar no desapego e na amnésia sentimental estavam ruindo ao seu toque, como numa ação premeditada, quase divina; foi tudo muito rápido e o que normalmente levaria décadas, ocorreu em onzenas éramos um do outro, e ponto final. Só que, infelizmente, como bem sabemos, as reticencias são feitas de pontos finais: o Eu e Você tornou-se Nós sem obedecer as regras de espaço e tempo, acabando assim por nos tornar criminosos das leis do destino, e era meio que óbvio que nossa impunidade não duraria muito mais.

Por alguns defeitos meus, e a maioria dos seus, desentendimentos se tornaram constantes. Rancor, desapego, frieza, ciúmes, falta de dialógo, inadiplência em admitir sentimentos... Uma lista grande foi se formando, aumentando, nos afastando. Eu que havia te deformado, para se encaixar no meu coração defeituoso, não te queria mais tanto assim. E o que antes era um aroma cítrico para você, adocicado para mim, se tornou sabor acre, dor pugente, agonia de um sorriso vazio. Meus olhos amendoados se tornaram desinteressados, seus olhos âmbar, viraram rancorosos.

Um hiato se formou, simplesmente por não darmos a verdadeira importância do que estava acontecendo, você não admitia seus sentimentos, eu não procurava uma solução.

Querida, eu já estive aqui antes, eu vivia sozinho antes de conhecer você, deliciado com minha amargura enebriante, vacilando entre versos solitários, sussurrando como um cafajeste embriagado, uma raposa envenenada, afugentada. Agora, você nunca se mostra, porém, tenho uma certa certeza que você se lembra muito bem do dia em que conquistei meu lugar em você. Não foi muito desafiador, confesso, seu coração, como você mesma admite, fica exposto, do lado de fora, fácil de ver e pegar, mas eu simplesmente roubei, pois sou gatuno, vulpino; um ótimo ladrão.

Entre os arcos escritos pelo destino, pelo gosto por músicas, palavras, versos, sentimentos e lírios, nos reencontramos. Só que diferente do que possam imaginar, o amor não tem marcha da vitória, é apenas intenso demais, bom em certos momentos, doloroso durante a grande maioria do tempo que resta: é um frio feito para sofrer, deixando apenas a sensação de alivio nos raros dias quentes que o destino nos brinda.

Hoje eu percebo que a nostalgia nos encara com um sorriso de deboche; houve um tempo em que você me dizia tudo o que realmente acontecia entre suas razões e emoções, mas agora, se ainda estivéssemos juntos, eu precisaria ler você, decifrar cada código que você criou pros sentimentos que mantem suturados dentro de si. Se hoje, ainda fôssemos o que já fomos em outrora, eu teria de descobrir o que fazer o tempo todo, não é mesmo? Teria de arrumar um jeito de fazer as coisas certas para tentar ter alguma chance de aproveitar quem você é hoje. Será que você se lembra do bem que te fiz, quando roubei você, e aquele seu suspiro após o primeiro beijo? Aquele foi um sussurro de Aleluia, ah se foi.

Talvez haja um Deus lá em cima, mas tudo que aprendi sobre amor, é que ele simplesmente acontece para aqueles que aceitam quem são; é como dar a outra face para aquele que esbofeteou você ou ficar confortando em silêncio à um choro que você pode ouvir toda madrugada. Apenas sei que não é um sentimento perfeito; pelo contrário, exibe na maioria dos casos, uma tonelada de defeitos! Nada mais é que a crença num algo melhor, utópico; um suspiro de Aleluia.

Estou aqui, como sempre, olhando uma foto sua, me arrepiando ao analisar seu sorriso, re-lendo cada palavra que acho ter sido escrita para Mim, para Você, para Nós; feitos por Mim, por Você, por Nós. Ainda resta uma esperança, entorpecida e agarrada, ainda há um suspiro de Aleluia pra Nós.

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