quarta-feira, 18 de maio de 2011

80 weeks (Primavera)

Essa não é uma narrativa sobre um romance. É apenas um conto sobre egoísmo, sorrisos, beijos roubados e corações machucados. Dividida em quatro atos, assim como uma translação solar é dividida em quatro estações.

Tudo se deu inicio, quando ele começou a fitá-la num bar, em plena quinta-feira à tarde, onde ambos dividiam a mesa de amigos em comum.

Ela já havia reparado há muito nos olhares dele, mas não comentou nada, apenas se concentrou em devolver tais olhares.

-Não deveria beber isso. - foi a primeira vez que ele dirigiu sua voz rouca a ela, mesmo sem saber o nome dela.
-Por que não? - ela indagou em resposta, tentando se decidir se ele era ousado ou um idiota qualquer.
-É feio.
-Por que sou mulher?
-Justamente - os dois se encararam quando ele respondeu. Ela deu de ombros e virou sua pequena dose de cachaça. Involutariamente fez uma careta quando a água ardente lhe queimou a garganta. - eu avisei. - ele acrescentou num tom casual.

A tarde passou rápido, sem que eles conversassem, mas ela continuava a sentir os olhos castanhos dele sobre ela, e aquilo realmente a incomodava.

Sem saber porquê, ela acabou cumprimentando-o quando eles se viram. E depois disso eles passaram a conversar diariamente, sobre qualquer coisa. A intimidade prosperou, sem que eles tivessem tempo de colocar limites no que surgia.

Foi como se a primavera tivesse chegado para os dois. Para ele, foi como se toda a neve e gelo acumulados em seu coração finalmente começassem a derreter perante o sorriso dela. Para ela, foi como se pela primeira vez, seu coração florescesse, se enchendo de cores e sensações que ela jamais experimentara.

-Já percebeu as peculiaridades que nós temos?
-Como assim?
-Meu nome é Daniel, e o seu; Isabel. Os dois terminam com "el" e tem 6 letras, A primeira letra do seu nome é o 'I', a nona letra do alfabeto assim como meu aniversário é no dia 9 de fevereiro, e o seu no dia 4 correspondendo a letra inicial do meu nome que é a quarta letra do alfabeto. - ele pausou sorrindo - O "I" também é a terceira vogal, e o "D" a terceira consoante, ambos somos piscianos e...
-Você tem muito tempo ocioso pra pensar essas besteiras não tem? - ela o interrompeu censurando-o.
-Se você considera seus olhos com de âmbar como besteira, sim, eu tenho...
-Eles são verdes - Isabel retrucou.

Era sempre assim. Daniel falava o tempo todo, e ela ouvia e sorria. Os dois viviam escrevendo sobre eles dois, embora não admitissem um ao outro sobre aquilo. Em poucos meses, parecia que se conheciam a anos. Só havia um porém: ela já pertencia a um outro alguém.

E o romance ia fluindo, como a primavera. Os dois aproveitavam o clima, e descobriam um no outro, coisas cada vez mais agradáveis. Ele a incentivou a não ter vergonha daquilo que escrevia e como ela escrevia, e isso o fazia sorrir como jamais sorrira. Se pegava abobalhado relendo o mesmo texto, inúmeras vezes.

Daniel via em Isabel, um vício inexplicável. Ele bem sabia que não devia flertar com ela, mas não resistia. Era como se ela tivesse sido moldada para ele. Como se o destino tivesse se atrasado em apresentá-los. Os cabelos claros dela, que contornavam seu rosto em forma de coração agraciado por dois olhos de um verde mais claro que a cor do mar, lhe faziam sorrir até as bochechas doerem. E ele a queria pra si, como nunca quisera nada antes.

-O que há de errado se você quer?
-Não é certo e pronto - ela finalizou pela enésima vez aquela conversa.

Só que ultimamente as coisas estavam fugindo do controle dela. E ele já notara isso.

Para Isabel, aquele jovem moreno de olhos castanhos e sorriso galante, era bastante atraente, mas não era isso que a fazia ficar balançada. Eram sempre as palavras. Algumas Palavras. Que a confundiam para esclarecer. Ele sempre sabia as palavras certas, que a surpreendiam, que lhe  arrancavam sorrisos, e nunca se tornava repetitivo.

Segundo ela mesma, era como um livro que parecia estar sendo escrito, e que cada vez mais se aproximava de um clímax melhor e mais intenso. Só que ela não sabia o que ele sentia, e receosa como era, preferia guardar para si tudo aquilo que sentia.

-Você quer - ele afirmou num sussurro preso em seu sorriso.

Quando os olhos dos dois se encontraram, ela não sabia o que sentia. Se era amor, ou vontade. E finalmente, ela cedeu, talvez pela curiosidade, talvez pela insistência.

Já passava da vigésima semana que eles se conheciam quando ele finalmente lhe roubou os lábios, numa tarde quente demais para a primavera. E ela soube, no âmago do seu peito, que a primavera se acabara, e aquele calor que sentia só podia significar uma coisa: O Verão havia chegado.

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