sexta-feira, 15 de maio de 2020

Noite. Dia (Q1)


Meia-noite. Meia-noite? Talvez duas da manhã. O celular tem hora. O computador tem hora. A hora não é hora. É que o tempo deixou de ser temporal. É uma consequência da limitação do espaço. Nunca soubemos o que bilhões significava para o mundo. Não acho que vamos descobrir agora.

Acender um cigarro na varanda não me rende mais o interfone tocando com reclamação do síndico ou, em casos da fumaça ter um cheiro diferenciado, de notificações do condomínio que nunca paguei e deixei para meu locatário.

Gosto do vento da varanda. Antes vinha com fumaça de plástico queimado de uma casa invadida aqui no bairro, ou do retorno do esgoto quando as chuvas alagam as ruas e todo o lixo urbano se mistura às águas pluviais. Também tinha um vento. É um dos poucos prazeres de morar entre o subúrbio e um bairro de classe alta. Vento de uma avenida que rasga a cidade. Não tem cheiro, mas tem intensidade. Não tem sabor, mas tem sensação. Não tem rumo, mas tem sentido para mim. Sentado numa cadeira desconfortável, sinto dores que não tinha quando era mais ativo fisicamente. Na prática, deveria estar aproveitando a economia de tempo de deslocamento em possibilidades de aprimorar o meu eu. Treinar. Sempre gostei de me exercitar. Em qualquer possibilidade. Mas não me lembro, agora, da última vez que me exercitei só pela tal da endorfina. Meu exercício tem sido psíquico.

Psíquico. Não mental. Não é estudo. Não é aprimoramento. Não é busca por conhecimento que vai se tornar algo melhor para mim quando tudo passar. É psíquico não só porque é o tipo que derrota o lutador. É psíquico porque minha psique precisa ser estimulada. É isso ou sucumbir à anseios mentais que evocam toda uma base privilegiada de conhecimentos sinalizando que vai piorar. Vai piorar. É o Brasil. Nunca duvide do Brasil. Não duvido.
E se não há dúvida, como eu ainda quero ficar aqui? É que eu sou teimoso. Rancoroso. Câncer com ascendente em capricórnio. Não importa. A reflexão vai longe, mas o sono chega. E aí eu lembro que sou humano. A cerveja esquenta. 

O copo tá vazio e a preguiça de abrir outro me alenta. Amanhã eu desperto em algum horário sem hora. Num dia que não tem semana. É mais um número. Perdido. Sem tempo. Sem espaço. Apenas mais um dia. Bom dia.

domingo, 26 de janeiro de 2020

Xícara de café

Quando me perguntam,
O que o amor é,
Penso num salto de fé,
Numa xícara de café.

Amor tá no dia a dia,
Em dividir pequenas alegrias,
Na companhia e parceria,
Em seguir junto, mesmo sem assunto.

Amor raramente é paixão,
Não vem de surpresa,
Não se funda na beleza,
Mas tá no sexo, na briga, discussão,
Tá no sorriso, no silêncio, na certeza.

Não creio que seja uma fuga,
Tá enraizado na rotina,
Não é cerveja, álcool,
Não é cigarro, nicotina,
É o que te deixa de pé,
Uma xícara de café.

Que te levanta, mesmo quando você não quer,
Que te queima se você tentar engolir,
Que te enjoa se você deixar esvair.

É algo que não é, mas é,
Te faz crescer, encarar o mundo,
Te faz outra pessoa,
Pra ser melhor com outra pessoa,
É bom e te faz ficar de pé.
Um brinde a minha xícara de café.

sexta-feira, 9 de março de 2018

Esforço

Não necessariamente,
A subida é a pior parte,
Pois o esforço,
Feito diariamente,
Tem beleza, também é arte.

Não consigo me desligar,
Está sempre tudo fervilhando,
Em ideias soltas na minha mente,
E cada pequeno erro,
Ignoro sem me desculpar.

Assim nascem rachaduras,
Eu nunca me preocupei,
Com confusões futuras,
Me sobra impulso,
Me falta freio
Você é meu pulso,
Meu melhor meio.

Não desiste de mim,
Pode respirar, se precisar,
Cada um tem seu tempo,
Eu vou continuar a escalar,
Mesmo quando não parecer afim.

Não sou de fingir,
Então dá pra ver claramente,
Que tampouco vou desistir,
Vou esgotar os sorrisos,
Antes de lhe dar um sobreaviso.

Essa é minha versão do amor,
A presença onde quer que for,
Quero toda sua cor,
Pra tingir todos meus dias,
Com esforço e alegria.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Agora

Hoje é mais um dia em que eu não tenho certeza do por quê, ou pra quê eu ter chegado onde estou. Não é uma reflexão existencialista, é mais um pragmatismo de pertencimento, pois, quando eu acordo e lhe vejo ao meu lado, creio que não há alguém que nutra o sentimento que sinto por você, agora.

Sentimento não justifica nada, mas nutre a alma e de pouco em pouco, a cada dia novo, é você em quem eu penso antes de dormir. São as suas sardas, é o cabelo que sempre vem na minha cara, quando você tenta se encaixar no meu pescoço, mas é, principalmente, a minha risada em todos os momentos que não uso nenhuma máscara, em que você me aceita como sou e a felicidade é autêntica onde estou agora.
Estaria mentindo se afirmasse que sei pra onde estamos indo. As estradas da vida são muito tortuosas e cheias de armadilha, mas gosto de como, de mãos dadas, conseguimos superar percalços e derrapadas, porque não é como se só ambicionássemos o fim, não, sinto que tanto pra você, quanto pra mim, o que importa mesmo é essa jornada. Logo, gostaria de dizer muitas coisas importantes sobre mim, sobre nós, sobre o que somos, pra você, contudo, eu realmente não sei como, então a única coisa que posso lhe contar é como estou feliz agora. Obrigado, assim, por nunca ter ido embora.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Dois Jogadores

Há sempre um vilão,
No final de cada fase,
O jogo pode virar,
Melhor culpar outro, então.

Tenho poucos rivais,
Pois os que são capazes,
Não me assustam porém,
É que a própria vida,
Não sabem conduzir tão bem.

Podemos nos unir,
Mas pretendo só subir,
Se você me levar pra baixo,
Verá que não mais me encaixo,
Numa aventura pra dois jogadores.

Sou pragmático assim,
Pois domei meu tempo,
Para tornar a vida simples,
Ou você está afim,
Ou merece um fim.

Podemos fazer funcionar,
Não prometo que irá perdurar,
Mas pelo menos o presente,
Esse sim será de se aproveitar.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Náutica

Eu clamei por ar naquela noite. Estava à espera de um destino que não parecia me importar, tanto que deixei você passar tantas vezes, até que, num dia sem ter pra quê, decidi que poderia ser um bom passatempo, finalmente lhe conhecer. Sim, eu clamei por ar, quando, de soslaio, bati meus olhos em você; o fôlego me fugiu e senti as mãos suarem frio.

Frigidamente, deixei você entoar esperanças pra mim, guiando danças, fossem de palavras, de olhares, de sorrisos ou de vontades. Em torno do seu baile, de alguma forma, deixei me levar pela hora. Não havia motivos pra um não, era só mais um encontro em vão.

Tentei de forma vã, esquecer o seu olhar, mas o esforço nunca foi o suficiente. Era mais como o mar quando está calmo, como quando o astuto expressa uma mentira; era de me fazer rir, de como fui tirado da inércia, ficando a sós com um sorriso ostentado que independia de quem o podia ver. Depois de tanto tempo a deriva, a terra firme vista em você, me era bem nauseante.

Por ser uma pessoa náutica, me tempestuei em inseguranças e sua fugas, tão justas, me guiaram pela hipotenusa. Era o caminho mais lógico, contudo, sabíamos tanto que o raciocínio não mais era plausível. Fingimos então seguir em frente. Me mantive bem com entre sentimentos infantis, os tão necessários pra me proteger do que tive de sentir e do que ainda poderia estar por vir. A boa verdade é que se dependesse apenas de mim, ainda gostaria de obter tudo dos seus olhos.
Ao lhe olhar novamente, clamei por ar na noite em que lhe disse que não, não estava tudo bem em nos separarmos. Pois, se meus pensamentos estavam borrados, a minha bussola era o meu peito. Estávamos tão próximos e, ainda assim, eu estava tão só. O copo cheio que dividíamos contradizia meu coração vazio de orgulho. Era o medo de lhe machucar, o medo de macular algo tão lindo que, se parasse por ali, seria uma história tão linda de relembrar. Então eu me calei quando você indagou se a reciproca era verdadeira. Silenciei quando você optou por se afastar.

Afastados, penso que é válido explicar que não é que eu quisesse estar em outro canto ou com outro alguém, é só que como as ondas não param de ir e vir, o motivo de eu não ter me aberto não é sobre você, eu ou qualquer outro; é sobre minha característica náutica, o mar e a imensidão que me acostumei a transbordar.

terça-feira, 2 de maio de 2017

Todo Azul

Deixou a água fria levar pra longe o calor que seu corpo emanava após um dia extremamente cansativo, que incluíra dirigir pela menor estrada federal do país até Baía do Sueste e conhecer os outros projetos ecológicos do arquipélago. Eles fizeram uma trilha que durara quatro horas e depois tinham almoçado de forma tardia no Bar do Meio, onde estava rolando um show bem animado, porém eles estavam tão cansados que nem ficaram para ver o pôr do sol com vista para Praia da Conceição.

Recolheram seus pertences e seguiram caminhando pela praia em silêncio, lado a lado. Pelo canto dos olhos ela o via com aquele sorriso bobo. Era incrível como ele transbordava, o tempo todo, tanta felicidade. Talvez fosse estivesse um pouco bêbada pelas tantas caipirinhas que tomara ao longo do dia, talvez fosse a exaustão, mas começara a refletir sobre como era grata por todos os dias que tivera naquela viagem, pena que estava acabando e isso lhe afligia muito. Não só porque estava amando cada detalhe daquela ilha e dos dias que passara na embarcação, como também por não ter a mínima ideia do que iria rolar entre eles, quando voltassem pra casa. Era uma questão filosófica demais para a cabeça dela, por si só, responder.
-Me beije.
-Oi? – ele indagou confuso. Ela suspirou impaciente. Será que ele não entendera como é que as coisas funcionavam pra ela?
-Me beije logo – repetiu se aproximando e ele fez como ela mandou, largando tudo no chão. Misturando um beijo voraz ao gosto de água do mar dos lábios dele e caipirinha na boca dela; junto com todo azul que inundava a mente dela e que partia dos olhos dele, do céu e do mar que a rodeava há tantos dias; junto como o reboliço de sensações que ela sentia no peito e que sacolejavam sua mente de uma forma tão parecida como o mar fazia.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Ela

Ela não liga,
Se fica vermelha,
Pra ela não importa,
O que você lhe diga,
Faz o que dá na telha,
A liberdade lhe espelha.

Sua melhor definição é:
Como gosta de interromper,
Com falas de surpreender.

-Já visse um pôr-do-sol, assim?
-Como o céu tá lindo;
-Um café agora seria bem-vindo;
-Vamos ouvir essa música até o fim?

Com seu jeito único de sorrir,
Ela é do tipo que fica,
Mesmo depois de partir.

terça-feira, 21 de março de 2017

Vilão

Pode parecer que não, mas eu tenho consciência sim, verdade que prefiro não demonstrar, contudo quando fico só comigo mesmo, deitado em minha cama, encarando um teto branco, tenho lapsos de insônia, porque me lembro de tudo que tenho deixado de fazer. Subitamente, como é do meu feitio, me levanto e vou olhar o céu; é que sentir as estrelas me observando, faz com que recordações torpes parem de me atormentar meu egoísmo.

Por ego, ou por falta de empatia, fiz o mal por aí, até porque não havia motivos sãos para não fazê-lo e embora devesse me arrepender, só consigo olhar pra trás e ser grato até onde cheguei. É por isso que gostaria de lhe deixar claro: não estou pedindo uma outra chance, pois não acredito que algo de bom vá nascer desse nosso romance, se quiser, me dê razão, mas, por favor, não me dê escolha não, pois ambos sabemos, obviamente, que vou cometer os mesmos erros novamente.
De novo nos reencontraremos, pois o fim nunca é absoluto e não é sua culpa, é essa cidade que tem seu limite de sociabilidade. Sim, podemos, apenas numa troca de olhar, imaginar sobre o que poderíamos ter sido, lembra que eu já lhe disse tanto? Do quanto torço pela sua felicidade? Talvez, quem sabe, numa grande demonstração de civilidade, podemos conversar e não apenas falar, todavia, espero que não citemos promessas, pois isso já não me interessa e não desejo voltar a essa reflexão, de como eu posso ter lhe sido um vilão.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Valente

Eu quero alguma liberdade,
Num mundo tão líquido,
Porque egoísmo é maldade?
Sempre tentam me rotular,
Porém sou seco no úmido,
Sou um paradoxo de irritar.

Gosto de pensar que sou valente,
Pois se esbanjo premissas diferentes,
É porque vivo apenas no presente.

Cada dia, uma nova dor de cabeça,
Cada envolvimento, um coração partido,
Pode soar falta de sentimentos,
Mas construir amor peça por peça,
Me soa como tempo perdido.

Sou velho demais pra aceitar,
Sou novo demais pra aguentar,
E meu afeto, ele vem e vai,
Meu interesse se planta e se esvai.

Pois os males que já fiz tanto,
Me fazem cogitar tatuar no peito:
"Eu tenho alma, mas não sou santo",
Quem sabe isso não dá um jeito,
De eu magoar menos pessoas?

A verdade é: não quero mudar meu nó,
Já tenho bem amarrada minha convicção,
As coisas são como já são,
Mesmo achando que vou ficar só,
Não sinto que isso é perder não.

domingo, 12 de março de 2017

Algumas

De muitas formas, sinto falta dos velhos tempos, sabendo que, algumas horas, essa saudade acinzenta a rotina, porque ainda me dói dizer, o quanto já quis que você ficasse, não pra sempre, mas pelo menos algumas noites.

Quando éramos jovens, sim, nos divertíamos, até porque não havia esse senso de que o tempo está passando; que já se foi. As promessas se vãs, não tinham essa intenção, todavia, ainda assim elas foram quebradas antes de serem feitas, já que nunca tivemos a pretensão de sermos responsáveis por aquilo que dizíamos.

Disseram-me tantas vezes que me faltava profundidade e hoje, me sobrando tanta empatia, meio que me falta simpatia, para acolher estranhos com seus discursos segregadores. Sim, atualmente, se eu prefiro ficar só, porque meio que não vejo uma solução melhor e se você ainda insiste em querer ficar ao meu lado, seu bom senso ainda deve estar quebrado. Não é que você não tenha razão em me querer, é só que se separados resistimos a esse mundo torpe, juntos desabaremos. Eu vou ficar bem, inclusive estou indo além: já estou trabalhando em algumas melhorias. Então nem vou ter que tentar tanto, afinal mesas viram algumas vezes e surpresas existem pra acontecer.
Tecendo meus planos em fios tortos, penso que não estou desperdiçando mais tempo, pois agora meus medos me encaram de frente e mesmo que eu não os enfrente, pelo menos tenho noção do que são, de como vão e o que me forçam a abrir mão. Pode parecer que não, mas algumas escolhas nem sempre erros serão.

segunda-feira, 6 de março de 2017

Sol Raiar

Estou bem aqui,
Esperando, aguardando,
Eu tenho de partir,
Não é uma novidade,
Há um bom tempo,
Já sabíamos a verdade.

Só não estamos prontos,
Porque depois desse ponto,
Não haverá mais volta,,
E isso me faz querer ficar,

Essa é nossa última noite,
E eu vou tentar não dormir,
Porque quando o dia chegar,
Não mais acordarei ao seu lado.

Eu fico feito boba, encarando,
Sua perfeição nos meus braços,
Tentando, em vão, decorar,
De alguma forma gravar,
Cada detalhe dos seus embaraços.

Mesmo tendo noção,
Que juntos vamos acabar machucados,
Ainda me incomoda saber,
Que quando o sol raiar,
Nosso tempo será só o passado,

Eu sei que é o adeus,
Mas, por muito tempo ainda,
Meus suspiros só serão seus,
Mesmo eu não sendo bem-vinda,
Serei sua Julieta e você meu Romeu.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Ao Teu Lado

Se eu te dissesse quem eu era antes, como costumava ser, terias tido interesse em mim? Talvez pelo sorriso, talvez pela ousadia, mas temo que não estaríamos assim: juntos. Mas eu sei que o inverso também pode ser verdade, eu não conheço quem eras até me encontrar, só o que resolveste me contar e pra mim isso basta, porque já não me importo com os jovens, sobre falar do passado, sobre falar de estilos, de erros, de acertos; me importo de falar sobre a gente, sobre nós dois.

Geralmente quando as coisas chegam nesse ponto, pelo menos pra onde estamos nos encaminhando, as pessoas tendem a desaparecer e ninguém mais consegue me surpreender agindo assim, porém, confesso que gostaria que isso não acontecesse contigo. A verdade é que não importa o que façamos, nem o que virá a seguir, gosto só de pensar que podemos ficar por aqui e viver esta noite por vez. Gosto do que temos, gosto principalmente de me perder no teu olhar.
Tu olhas pra mim de um jeito especial, tanto que tenho a impressão que sou aquele que mais te faz sorrisos; quando começo a falar, teus olhos brilham; sempre que separo meus lábios dos teus, dá pra ver como querias que eu não tivesse suspendido o beijo; quando me vou, sinto tua vontade de me puxar pelo braço, pra poder me fazer ficar por mais alguns momentos.

Mentiria se não admitisse aqui, que a recíproca é tão verdadeira; que eu me arrepio quando encaro teu olhar poderoso; que busco cada sorriso teu em cada palavra que te rogo; que sinto tanta saudades do teu pescoço nu, se arrepiando ao roçar da minha barba.

Pode ser uma baboseira de falar, mas obrigado por me fazer isso tudo. Gosto de deixar o tempo passar ao teu lado, porque quando estamos nisso, já não me importa o passado, só me interessa o quanto me sinto felizardo ao teu lado.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Até Quarta-feira

De hoje em diante,
Não tem mais jeito,
Já vou pisando,
Correndo e pulando,
Tropeçando pra me manter de pé,
Talvez esbarrar onde ela estiver.

Com palavras poucas,
Ressoando a voz rouca,
Você vai saber bem:
Como quero a língua tua,
Tomá-la com gosto,
Pra felicidade crua,
Estampar no seu rosto.

Vai ser efêmero, mágico,
Entre frevo e troça,
A paixão é toda nossa,
E na hora de se despedir,
Não há espaço para o trágico.

Somos o que tivermos de ser,
Enquanto você se perde por aí,
Faço o mesmo por aqui,
As ladeiras são tantas,
Ninguém tem alma santa,
Não há porque se preocupar.

Se me achar, me queira,
Se não, até quarta-feira,
Gosto de brincar assim,
Você é toda sua,
E eu só pertenço a mim.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Pintar

Pode-me pintar da cor que quiser,
E eu posso ser seu mocinho,
Mas pelo sorriso que eu der,
Vai dar pra você perceber,
Que eu gosto mesmo é de ficar sozinho.

Se meu olhar está distante,
É porque o desejo se foi,
Não me culpe por não ser como antes,
Eu nunca prometi nada pra depois,
Infelizmente não deu certo pra nós dois.

Você acha que estou preso,
Porque me mantenho por perto,
É só que não acho certo,
Lhe deixar só com todo esse peso.

Pode-me pintar de que cor for,
E eu posso ser seu palhaço,
Mas pelas minhas palavras sem amor,
Você vai perceber e se indispor,
Que não é capaz de me botar pra baixo.

Não me encaixo no seu peito,
Porque se acha que sou como outros,
Melhor enxergar direito,
Não sou o que você espera,
Minha hipocrisia não é coincidência mera.

Pode-me pintar da cor que lhe convir,
E eu posso ser o seu vilão,
Mas pela minha forma de sorrir,
Você saberá que não desejo lhe destruir,
Eu só não me importo com seu coração.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Libertar

Você me tem na palma da sua mão, escorrendo como areia em seus dedos, porque não consegue compreender, que apesar de já me ter, não é capaz de me conter, quero você, mas não sou de alguém pra lhe pertencer.

Sim, perto de você, percebo que não quero mais o que costumava querer, não preciso mais o que, antigamente, precisar, nem vejo o que, em outrora, via.

Vejo, agora, que estive esperando e trabalhando pra ter um retorno bom de tudo que plantei, tudo que perdi e, embora não saiba que fim vamos ter, já sou grata pelos sorrisos que você me fez exibir por aí, porque desde que você chegou, com essa sua mania de sonhos divulgar pra quem quiser ouvir, minhas noites tem tido esse seu sorriso como tema recorrente.

Recorri, inicialmente, ao desapego comum, por temer que você seja só mais um que tentará me domar, porém, a cada novo encontro aceito que você pode ser o Um. Vivo repetindo pra mim mesma:

-Não há o que temer - então porque ainda me sinto insegura? Talvez seja minha liberdade me chamando pra dizer que você pode me ajudar a me libertar, mas eu não queria ser ajudada, entende? Gostaria de ser a única protagonista de minha própria trajetória.
Seus trejeitos são maravilhosos, sim, não nego. Tenho saudade do seu cheiro, do seu gosto e do seu toque. A vontade me transborda tanto que me vejo agindo como não achei que seria capaz de voltar a agir. Quase uma romântica novamente, mas eu sou livre, então não pense que vou me entregar. Você pode até me provocar, porém serei eu a decidir se você é capaz ou não de me ajudar a me libertar.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

De Rua

Você diz que não é,
Mas pra mim pode ser,
Tenho esperança até,
Que seja o que for,
Enquanto sorriso tiver,
Rótulos não hei de pôr.

É que meu peito é de rua,
Gosta da aventura em si,
Você sabe como sumir,
Se chega, me bota na sua,
Some, deixa uma saudade nua.

Fico rindo disso tudo,
Como, depois de tempo tanto,
Arremataram me facilmente,
E assim, de repente,
Voltei a crer em algo pra frente.

Nesses tempos cheios de folia,
A gente dista um veredito,
Por só importar que todo dia,
Palavras trocadas nos encham de cor,
Aplaquem a vontade tendendo ao infinito,
Principalmente do olhar, do beijo, seu sabor.

É que minha vida é de lua,
Gosto de não saber enfim,
Se você me quer prum sim,
Sempre que chegar, me botará na sua,
Quando ficar, será felicidade crua.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Trambique

Você é a razão de eu acreditar em algo que não entendi, porque faz assim, tão fácil; torna esse desapego tão bonito, me rendendo ao irracional tão rápido, me perdendo em juras tão surpreendentes e sinceras pra mim, mesmo que seja eu, o único a proferi-las.

Sem intenção de me ferir, sei que você só pretende se divertir, não é como se eu não soubesse porque chegamos aqui, porém confesso que nunca me imaginei assim: a mercê de um olhar capaz de riçar todo meu ser, que desperta sorrisos em minha alma, me transborda em calma, que me faz esquecer todo o drama que, usualmente, gosto de impor a qualquer trama que minha vida venha a ser cenário.
Fazia cena, até lhe reencontrar, até entregar de mim mais do que eu lembrava ter. Tenha pena, se puder, na hora de voltar a desaparecer, porque, se lhe apetecer, provavelmente ainda estarei a espera do que você tiver pra me oferecer. Sei que isso pode soar como uma mendicância de atenção, contudo, é só eu sabendo que, em breve, você vai sumir sem nenhum sermão, como em outrora, e eu vou ficar sem a única pessoa que conseguiu trambicar o ladrão que costumava deixar sorrisos em troca dos corações que surrupiava para sua infantil coleção.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Aquarela

Quero escrever pra você, meu amor; minha única fonte atual de volúpia, inspiração e felicidade. Sei que não sou tanto de me explicar, por isso hoje, resolvi me fazer falar daquilo que prefiro deixar você me roubar. É que tenho me incomodado com a sensação que você possa não ter ciência ainda, do quanto sua presença tem sido bem-vinda, desde que você chegou. Ainda não chegamos numa estabilidade pós paixão e, talvez, nos percamos em dias de solidão, então, pra minimizar essa possibilidade, deixa eu lhe dar segurança pra esses dias comuns que podem lhe atormentar. Não se acinzente pela rotina, por favor, pois minha aquarela começa no seu olhar. Quando o cansaço chegar, basta me pedir uma garrafa de vinho. A massagem que começa num encontro de línguas, seguirá por um desabotoar seu vestido; tentando arrancá-lo com sutileza e vontade, irradiando a felicidade que só você incide em mim.
Me diz o que eu fiz pra lhe merecer. Tenho de ter feito, pois não acredito em donações desproporcionais, é assim que o mundo funciona. Talvez tenha sido por todos os inúmeros metros cúbicos de carbono que evitei dispersar enquanto pedalava, ou quem sabe por todos os sorrisos que instaurei nas pataquadas que disparatei, nas tantas palavras espalhadas pela minha ebriedade encarnada; provavelmente é o retorno por todo o bem que posso ter feito numa vida passada, mas não tenho certeza, só penso no quão grato sou por lhe ter comigo.

Como o amor é puro perigo, deveria me amedrontar um pouco pelas tantas verdades que, por agora lhe digo, porém, sei lá, não tenho medo do que virá. É que entre a incerteza e a loucura, prefiro adormecer nos seus braços.

Abraço sim, enfim, essa situação tão estranha, pois hoje estou com essa manha, de querer escrever apenas pra você, somente sobre você, com mais ninguém senão você. Descrever cada olhar, cada corar, cada riçar. Quero rimar, beijar, agarrar, quiçá lhe mostrar como o mundo é bom pra quem não se perde em preocupar. Obrigado então, por cada palavra que você não pára de inspirar, por ser essa aquarela de cores, sabores, sendo o maior dos meus amores.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Amiúde

Eu sou meio ao avesso,
Às vezes fico pensando,
Se realmente lhe mereço,
Me perguntando o sou,
Mas aí você me vem,
Com um abraço forte,
Me alegrando amiúde.

E aí eu me pego,
Com saudade do futuro,
Que você sonhou,
Naquela alegria,
Em que seu sorriso,
Era tão seguro,
Por um simples motivo.

Você desejou por dois,
Pensou que nosso agora,
Melhoraria logo depois,
Isso me fez querer ficar,
Sequer cogitar ir embora,
Mesmo nas nossas brigas.

Gosto desse seu jeito,
De ficar me olhando,
Como se lesse meu peito,
Sabendo tudo o que sou,
Como me fazer bem,
Como me ser uma sorte,
Numa rotina amiúde.

E aí me pego,
Com vontade do passado
Que você me mostrou,
Naquela fotografia,
Em que seu sorriso,
Era tão apaixonado,
Apenas por estar vivo.

Por isso rogo-lhe sorrisos,
Pra que você lembre o quanto,
Vou lutar pela sua alegria,
Porque você já o tanto,
De felicidade sem aviso,
Que inunda meu dia-a-dia.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Guardar o Véu

Chega mais juntinho,
Já é hora de se apertar,
Você nem vai acreditar,
Quando souber da novidade.

Não sei qual cor pintar,
Amo azul, mas pode ser rosa,
Aquele quarto sala de estar,
Será lar de surpresa maravilhosa.

Tu todo dia, que é meu bem,
Plantou em mim e o melhor já vem,
Sim virá e este será, se pá,
O primeiro de muitos, sei lá.

Já consigo ver, sorriso em você,
Beijando meu ventre, nosso bebê,
Obrigado pelo que me deu,
Por esse ser que tem de você e eu.

Sei que nosso apê,
Se aperta entre a rotina,
Que menino ou menina,
Vai mudar nossas vidas,
Mas é um sonho antigo né?
E no amor botamos fé.

A cerimônia vai atrasar,
Posso até vender o anel,
Se a gente precisar,
Vou até guardar o véu,
Porque sei bem do nosso amar,
Não preciso de titulo pra justificar.

Então chega logo,
É o único desejo que lhe rogo,
Vem nos abraçar,
Ver mais um sonho realizar.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Hóspede

Fale comigo sobre o tédio, tenho manias de grandeza, mas a verdade é que meu dilema é médio; lembra quando contei na mesa de bar sobre um medo torpe que, posteriormente, lhe segredei perceber ser inédito, até então? É que as minhas inseguranças surgem em problemas banais e as questões que, supostamente deveriam me afligir como cidadão, são ignoradas pela casualidade de consequências minhas. Talvez por isso que eu viva repetindo a ladainha de dizer a felicidade é minha hóspede quando faço das sexta-feiras incríveis com apenas boas companhias.

Comparando com o aleatório, tenho mais chances de encontrar um padrão pra felicidade que resolvi chamar de nossa. Não vamos seguir o comum, porém também não vamos negar o que já existe. Gosto da ideia que a fórmula boa pra gente já está por aí, basta só que estabeleçamo-la com pitadas de nossa pessoalidade. Logo, não precisa se preocupar se não vai dar tempo de cumprir aquela promessa, ou se não vamos poder ir àquela festa. Nós podemos sair, sem rumo, pra derrubar ou só apreciar umas cervejas, quiçá tragar em pigarros alguns odiosos cigarros; as obrigações que tenho na vida já se esvaíram aos meus vinte e poucos e sim, sei como meu discurso soa louco, mas já que a vida é só uma, faz todo sentido que o manual de instruções seja complexo de decifrar, ainda bem então que você chegou pra me ajudar.
Judiação é quando você, não sei com qual intenção, vem pra me beijar por eu soar como velho. Sim, eu lembro que, apesar de não ter validade, nosso tempo é íntimo da celeridade e apesar da sabedoria popular, não pretendo tentar aprisionar a felicidade que, ultimamente, parece ter nutrido gosto em nos visitar, até porque ela bem sabe que tem seu quarto de hóspede nos sorrisos que partilhamos quando, em silêncio, apenas nos encaramos.

Caricato é o destino que pintam pra contemporaneidade, pois se existe um mapa para nos direcionar, tenho de pedir desculpas, já que, em algum lugar no passado, eu o troquei por um conversar. Então, por favor, não se preocupe com as confluências da vida, visto que entre a maré do certo e errado, podemos sempre pegar a estrada, não importa o que vão dizer, tudo está bem, enquanto sorrisos forem o que nos motiva a ir além.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Vendado

Seu abraço ainda é tão brilhante como foi o primeiro, mesmo entre edredons, mesmo quando, de olhos fechados, não dá ver nenhum dos tons, quando seu toque já me é tão bom, que minha felicidade é você por perto com. Um beijo farejando meu pescoço, entre um ronronar sonolento, dentro de conversas entre sonhos extasiados. Sim, minhas pálpebras fazem dos meus olhos vendados, mas eu sei, que ao meu lado, seu coração está brilhado em sorrisos, me enobrecendo em sentimentos que achei que não geminariam mais, fazendo me regar planos tortos.

Tortura é, no meio de tantas encruzilhadas, nos momentos comuns da vida, perdido ao redor de vários rostos quaisquer, lembrar daquele seu olhar pós um gole de café e não poder estar por perto pra lhe fazer um pouco de cafuné. Não temos a eternidade, é bem verdade, mas temos tudo que couber nesse meio e, pra mim, hoje, esse é meu melhor anseio.

Ansioso eu fico, sempre que vou lhe ver, pode não parecer, posso não transparecer, afinal me criei pra transbordar confiança, porém sempre que sei que você vai chegar, me sinto como quando ainda era criança e não sabia o que fazer pra agradar aqueles que me faziam bem; questiono-me se estou aprazível o suficiente, se coloquei o perfume que você fareja como se fosse um presente, porque fazer de cada momento nosso especial, faz-me ter certeza que ainda lhe sou uma dose de alegria num dia casual, fazendo mudar toda a perspectiva que nos ensinaram que a vida se divide entre momentos horríveis e miseráveis; e é apenas isso que quero ser: o seu motivo pra relaxar e esquecer, de qualquer tensão que vier a lhe entristecer.

Teço assim, talvez por ser louco, entre nossos momentos poucos, linhas de carinhos, porque nosso caminho é feito simples assim: você sorrindo, entre beijos e abraços; entre sorrisos e amaços; entre conversas soltas e amarradas, um bom emaranhado, uma costura que posso fazer de olhos vendados, desde que você se mantenha brilhando ao meu lado.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

de Olinda

Por favor, não me dê esse olhar,
Nem pense em falar o que não se diz,
Quando se vive como se deseja,
Relacionamentos ficam por um triz,

Do Antigo pras ladeiras de Olinda,
São poucos quilômetros de muita folia,
Enquanto amores vão e se vem,
Estamos no paraíso por quatro dias.

Numa maratona sem descanso,
Não dá pra lembrar do que já existe,
O verão se despede sem perdão,
Sim, eu acredito no amor.
E você me diz pra não me preocupar,
Que permaneço no seu coração,
Antes da páscoa vamos conversar,
Perfeito, na páscoa vamos conversar.

Estou de acordo, melhor curtir o agora,
Pego carona no primeiro frevo,
Com um sorriso no rosto,
Engulo axé com gosto,
É Pernambuco, sou de fevereiro.

Não tem como não ficar feliz,
Sentimentos podem esperar,
Tem tanta troça pra seguir,
Não me preocupo com o que virá.

E eu saberei que estou certo,
Fantasiado, aproveitando o calor,
Vou frevar em pontes e ladeiras,
Pois esse que é meu grande amor.

Isso se eu não lhe encontrar,
Do antigo para as ladeiras de Olinda,
Recife ainda é um ovo social,
E ainda vou sorrir com seu beijo,
Perdidos se esbarram no carnaval.

domingo, 13 de novembro de 2016

Antes do Sol Chegar

Antes de você, nunca me entreguei completamente ao amor. É que, por mais errôneo que isso possa soar, sempre existiu a possibilidade de um futuro diferente e, também, era a melhor forma de proteger meu coração, ou parte dele. Provavelmente temi, a vida toda, de errar onde meus pais erraram. Acho que foi esse medo que me levou até seu encontro: tinha de me aventurar, após me ver livre de um relacionamento que, até então, tinha suposto estar vivendo..

Suponha que eu não tivesse te encontrado, imagina se não tivéssemos conversado? Pensa só como seria se você tivesse se negado a me acompanhar, ou a me beijar? Faça de conta que nunca nos vimos; que nunca trocamos palavras, que eu segui à deriva entre inspirações sépias pros meus tantos textos que já havia escritos, aqueles todos que não despertam nada em mim quando os releio; Por favor, finja que tudo que passamos, juntos, nunca aconteceu, que não lembra de nenhum dos nossos tantos diálogos, sobre os mais variados assuntos... Preciso acreditar nisso, pois é a única forma de aliviar minha saudade de você; de sanar a culpa que sinto por não ter conseguido nenhum contato até àquele dia; por ter deixado que nos tornássemos mais normais do que nosso amor merecia.
À mercê do destino, nosso amor se fez assim, tão bom de assistir. Cada episódio é tão rico que nunca bastante o prazo que nos dão. Antes do amanhecer eu quis lhe conhecer; antes do pôr-do-sol não consegui lhe esquecer; antes da meia-noite não posso lhe perder. É que a vida é difusa e dinâmica, por mais problematizada que seja e, ainda assim. vai ser boa de ser vivida, então que bom que foi pra você, a quem me entreguei antes de perceber, antes do sol chegar.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Bossa

Não fique triste,
Também não tenha esperanças,
Não sei porque você persiste,
Sou feliz como estou,
E você já me é uma boa lembrança.

Por mais sincero que eu seja,
Você ouve o que quer ouvir,
E eles veem como quiserem ver,
Não importa se chorar ou sorrir,
Desde que num rótulo esteja,
Você será só mais um haver.

Um aceno com a cabeça,
Pois não sou bom com apertos de mão,
Talvez você se esqueça,
Quão estranho ainda sou,
Tanto de mente como de coração.

Perdoe aqueles arrependidos,
A vida só se vive uma vez,
Independente do mal que lhe fez,
Deixar pra lá é tão mais divertido.

Sim, sou um idiota ou um otimista,
Mas nessa realidade ser o são,
É esterilizar um chauvinista,
Melhor então pertencer a outra dimensão,
Uma que seja só nossa,
Onde toda nova terá de ser bossa.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Repetir o Ato

É bom mesa de bar,
Porque toda beira,
Acaba por ser surpresa,
E tem lá sua beleza,
Em qualquer papear.

Todo encontro de dois,
Gera algo de há depois,
Toda dose que é forte,
Às vezes é doce de sorte.

Eu deixo tudo assim,
Sigo vivendo com fé,
Porque há algo em mim,
Dizendo pra ser de sorrir.

É bom se espreguiçar,
Porque todo dia de feira,
Nos faz ter certeza,
Que há sim certa beleza,
Num bom papear.

Se é a vida quem me carrega,
É sorriso bom que me rega,
E o seu me fez tão grato,
Que desejo repetir o ato,
De lhe ter nos meus braços.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Enredo

Você nunca me contou os detalhes do seu enredo passado, mas tenho certeza que foi mais uma dessas histórias piegas que todo mundo tem por aí. Provavelmente, foi abandonada a própria sorte e, aparentemente, os dias de cicatrização passaram muito devagar, sem nada novo por mostrar.

Demonstrei, aos poucos, porque, apesar de já ter vivido tão mais, que estava disposto a deixar tudo isso pra trás. O problema é que estamos sempre em constante mudança, sempre crescendo, evoluindo e modificando nossa vontade pelo destino, esquecendo de reparar os princípios que nos tornaram o que somos; deixando que as nossas estruturas se corrompam e que nos tornemos um alguém que, em outrora, nunca imaginamos ser capaz de ser.

Seria muito pedir pra você fechar os olhos e confiar em mim? É que se você o fizer, vai perceber que nada mudou; é como se já estivéssemos aqui antes, com outros pares, em outros cenários, mas com o mesmo enredo.
Numa rede de repetições, nos envolvemos em ciclos viciosos que a sociedade moderna, tão líquida, tão efêmera, insiste em doutrinar como o único caminho certo pra felicidade. Só que, por eu ser um claro anarquista, questionei não só as imposições que me foram delegadas, como também as suas também, àquelas que já nem lhe incomodavam mais, derrubando assim, alguns dos vícios que não gostamos de abrir mão, seja por comodidade, ou simplesmente por arrefecer nossa falta de certezas sobre a vida.

Certo é que não há um jeito fácil de começar, tampouco há um de terminar. Somos o que tivermos de ser, por isso me incomoda tanto esse seu jeito de temer o que tiver de nos acontecer. Nosso enredo está aí pra quem quiser ver; a gente já está vivenciando, independente do que o futuro vier a nos remeter e isso é o que, hoje, faz meu sorriso se estender.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Esvai

Já são três da manhã? Não lembro de nada depois do copo, sal e limão. Meu passo não é firme, tenho de me apoiar no corrimão, sei bem onde estou, mas não é exatamente onde gostaria de estar. Queria poder lhe ligar, mas, provavelmente, você está dormindo, ou pior, coisa que nem quero pensar, está por aí, sorrindo. Queria tanto o seu sorriso, seu abraço, você cheirando meu cangote, mordendo minha nuca, por que tenho de aprender a ficar sozinha novamente?

O novo deveria ser a solução, entretanto, não foi a escolha do meu coração; já sabemos quem você é e, apesar de não agir de má fé, não tem como fingirmos que vou acabar bem. É que eu sou dessas, sou de querer o além, logo tenho de admitir que estou com saudades, porém, com poucos resquícios de sobriedade, sei que estou melhor por aqui, só comigo mesma.

A mesmice do meu amanhã - ou devo chamar de hoje? - é o que me entristece, pois você não sabe, mas enquanto me esquece, eu fico entre edredons, olhando pro lugar onde você costumava a ficar deitado, quando eu lhe indaguei o porquê de você me querer ao seu lado; pensando o que posso fazer da minha vida... Não é culpa sua, eu que tenho essa ansiedade de alma sofrida, de não querer ficar só, de viver tentando me atar nos outros com um nó. Só que eu também sei quando não é pra ser e mesmo sendo tão bom cada momento com você, a gente não vai prevalecer.
Ainda é em você que eu penso; é o sabor do seu beijo que me norteia entre os outros gostos que vou provando; é a sua pegada que me eriça e são as noites que ficamos juntos - aquelas que tentamos em vão esgotar os mais randômicos assuntos, esses tantos que me ainda me fazem, infelizmente, se apegar a um acreditar que a nossa súbita sintonia não é, realmente, um sinal de destinada parceria - que fazem minha vontade de me arriscar passar.

Passeio em vão, com pensamentos que a lugar nenhum vão. Quero mudar a necessidade de lhe querer e é assim que vai ser, vou me esforçar pra ignorar suas mensagens, vai ver você some de vez, ou quem sabe vem com vontade de ficar. Não há muito o que pensar, só fica ou vai, transborda ou se esvai.

domingo, 9 de outubro de 2016

Falsa Concórdia

Outra noite na nossa cama,
A lua brilhante não está a vista,
Ao meu lado você finge dormir,
Sem querer me dar nenhuma pista,
Da ruína que parece estar  por vir.

O que você está pensando?
Foi algo que falei?
É algo que eu não sei?
Sim, você vive no passado,
Mas eu estou aqui, tentando,
Corrigindo o que tiver de errado.

Você me diz que está tudo bem,
Estou ficando louco?
É que quando seu tom é rouco,
Dá pra notar a bílis no seu sorrir,
E você pode até tentar mentir.
Mas não pode negar nosso amor..

Quando seus olhos estão fechados,
Me diga o que você vê,
Tem algo importante pra me dizer?
Ou são só planos frustrados?

Nos mimos de sua misericórdia,
Me pego mendigando carinho,
Pois sua falsa concórdia,
Ainda é melhor que seguir sozinho.

Sei que me sobra comodismo,
Todavia, quando se trata de sentimento,
Não ouse negar o que existe,
Você pode estar triste,
E eu temo por esse grande abismo,
Que só cresce no nosso relacionamento.

E mesmo com tanta dificuldade,
Ainda quero buscar a felicidade,
Porque foi ao seu lado,
Que tive meus sonhos realizados,
Então porque não dá mais uma chance?
Dias bons ainda estão ao nosso alcance.